Muito se ouve falar sobre bullying, mas o que sabemos sobre o assunto? Segundo a educadora Cléo Fante essa forma de violência é uma das que mais cresce no mundo, uma triste realidade; ela ocorre em diversos lugares e pode acontecer de várias maneiras.
Uma pesquisa do
IBGE, de junho de 2013, mostrou que "um de cada cinco adolescentes, entre 13 a 15 anos, pratica bullying no Brasil, sendo 26,1% meninos e 16% meninas".
Aquilo que muitas vezes parece inofensivo poderá, emocional e fisicamente, afetar a pessoa que está recebendo a ofensa. Por isso é importante orientar todos da família sobre o assunto para que não sejam nem vítimas e nem agressores do bullying.
Veja o que dizem alguns especialistas no assunto e que são importantes saber:
1. O que significa
Bullying, explica a psicopedagoga clínica e presidente da Associação Brasileira de Psicopedagogia (
ABPp), Quézia Bombonatto, "é uma palavra inglesa usada para atos agressivos, violência física ou psicológica, intencionais e contínua, cuja intenção é um desejo consciente de maltratar outra pessoa, realizado por um indivíduo, ou grupo contra outro indivíduo, ou grupo, sem motivo claro".
2. Classificação
Verbal: intimidação através de palavras cruéis, insultar, xingar e apelidar pejorativamente os atributos de uma pessoa como aparência, religião, etnia, deficiência, orientação sexual, etc.
Moral: difamar, caluniar, disseminar rumores.
Sexual: assediar, induzir e/ou abusar.
Social: ignorar, isolar e excluir.
Psicológico: perseguir, amedrontar, aterrorizar, intimidar, dominar, manipular, chantagear, infernizar.
Físico: agressão e/ou intimidação física envolvendo constante atitude de bater, chutar, fazer tropeçar, bloquear a passagem, empurrar, e tocar de forma indesejável, inadequada e agressiva, como puxar as calças de alguém para baixo publicamente.
Material: furtar, roubar, destruir pertences de outrem.
Virtual: depreciar, enviar mensagens intrusivas da intimidade, enviar ou adulterar fotos e dados pessoais que resultem em sofrimento ou com o intuito de criar meios de constrangimento psicológico e social. Intimidação pela internet que ocorre ao se espalhar mentiras e falsos rumores por e-mails, mensagens de texto e nas redes sociais; ao compartilhar mensagens sexistas, racistas e homofóbicas criando uma atmosfera ofensiva e agressiva, mesmo que não de forma direta.
3. Onde ocorre
Em muitos ambientes, na família, nas escolas e universidades, na vizinhança, no trabalho, clube, no playground do condomínio, nas redes sociais, porém o mais conhecido e divulgado ocorre no ambiente escolar.
4. As vítimas, quem são
Quézia Bombonatto diz que "são crianças que não se posicionam, são mais tímidas, com características diferentes que dão origem à descriminação devido à etnia, raça e com algum problema físico, que leva o agressor a atormentá-la e pegar no pé".
5. Os agressores, como são
Triana Portal, psicóloga clínica, explica que tendem a ser impulsivos, ter maior liderança e ascensão no grupo, a trazer modelos agressivos de casa que veem como qualidades, ser populares, manipuladores, ter boa opinião sobre si, ser fisicamente maiores e mais fortes que as suas vítimas, usar o bullying para se autoafirmar e se posicionar no grupo, e não se importar com a vítima.
6. Prejuízos emocionais
Triana avisa que alguns sinais mostram se alguém está sendo vítima de bullying, como ter "tristeza profunda (depressão), irritação, autoestima baixa, medo, vergonha, queda no rendimento escolar, retraimento social, infelicidade, ansiedade, alterações do sono ou apetite, recusa em ir à escola expressa ou oculta através das dores de barriga ou de cabeça". Já Quézia dá a dica de verificar alguma
apatia ou comportamento atípico, pois os danos sociais e psicológicos são grandes.
7. Atitudes da família
As duas especialistas concordam que ao perceberem que um filho está sendo vítima do bullying é preciso "conversar para identificar a dor da criança, aproximar-se dos filhos, dialogar bastante, trabalhar a resiliência da criança, preparando-a para lidar com a questão, buscar a escola para um trabalho conjunto pedindo auxílio e intervenção e prevenção mostrando como esse comportamento é inadequado".
8. O papel da escola é prevenir
Muitas escolas não estão preparadas para lidar com o bullying, mas Quézia Bombonatto defende que a escola precisa fazer uma conscientização e prevenção nas salas de aulas e nos pátios durante os intervalos e nos corredores, mostrando quão inadequado esse comportamento é, que deve haver "intolerância zero com o bullying".
9. Lei que dá suporte às vítimas
Está em vigor a
lei nº 13.185/2015 que estabelece o
Programa de Combate à Intimidação Sistemática (Bullying) no Brasil, para prevenir e combater essa prática. A nova legislação determina que as escolas devem prevenir, conscientizar e combater o bullying, obrigação também reforçada pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, além de oferecer suporte psicológico e jurídico quando a vítima sofre dano físico ou moral.
10. Como proceder quando os filhos forem vítimas de bullying
Vitor Mattoso, advogado do projeto 'Bullying Nunca Mais', recomenda "conversar detalhadamente com o filho para não se omitir informações importantes; anotar tudo e agendar uma reunião com a direção da escola, sem alarde; não falar com o agressor, mas com os pais ou responsável por ele; ser discreto, expor os fatos e ver o que será feito para solucionar o problema; anotar telefones, e-mail da escola; manter a comunicação e demonstrar interesse".
11. Registrar Boletim de Ocorrência (BO)
"Esta é uma questão delicada e vai depender do contexto", explica Vitor Mattoso. Se for por um desentendimento de colegas, geralmente não se registra BO; mas se for após muitas ameaças verbais, como 'vou te quebrar todinho', 'vou te matar' ou 'vou acabar com você', pode ser interessante, e se ainda causar dano físico, sim o BO deve ser registrado", consultando um advogado para orientação.
12. Como saber quando o filho pratica bullying
É preciso estar atento ao comportamento do agressor, pois ele acumula conflitos e sofrimentos e descarrega essa carga negativa em outra pessoa. A família mais a escola devem ajudar. Os pais também precisam reconhecer as falhas e defeitos dos filhos e não culpar outros pelos erros deles, para não incentivar o comportamento negativo. Os valores invertidos, modelos ou padrões impróprios e tensões do contexto doméstico são liberados no ambiente escolar, dizem os especialistas.
13. Como as crianças veem o bullying
Robert Sege, diretor da divisão de família e defesa da criança no Boston Medical Center, diz que "elas sofrem com bullying quando entram na escola, interagindo com outras crianças. Cada uma tem uma reação, medo,
introversão ou mesmo agressão. É importante garantir segurança e tranquilidade para elas na escola, conversar com diretores e professores contando o que aconteceu e o que será feito para acabar com o bullying,mostrando no lar a confiança na criança em superar essa situação.
14. O que não é bullying
Bullying é uma agressão, porém nem toda agressão será bullying. Desentendimentos, discussões e até brigas de curta duração em que a vítima supera, tem reação ou ignora a atitude, não são bullying."Para uma agressão caracterizar-se bullying é preciso que o agressor tenha vontade de ferir a vítima, repita a agressão sempre, que tenha muitas pessoas assistindo a vítima ser agredida e que a vítima aquiesça, ceda à ofensa recebida", explica Telma Vinha, doutora em Psicologia Educacional da Unicamp.
Estimulem seu filho a ter confiança, independência e agir quando precisar, essa é a proteção maior que se pode dar a ele contra o bullying. Conversem e pratiquem formas seguras de responder à intimidação, como "Isso não é legal", "Deixe-me sozinho", ou "Deixe-me passar", aconselha o psicólogo, Ph.D. e professor na
University of California, Shane Jimerson. Pais, ensinem aos filhos o respeito por si mesmo e pelos outros por preceito e pelo exemplo, vocês são a chave que capacita as crianças para prevenir e conter os casos de bullying.
Fonte: http://familia.com.br/10506/filhos/14-coisas-que-todo-pai-deve-saber-sobre-bullying