segunda-feira, 29 de maio de 2017

5 Micos no WhatsApp - Saiba como evitar

Evite problemas no WhatsApp! O maior desafio está em usar a mesma ferramenta para finalidades diferentes, alternadamente: pode ser que, logo após mandar uma piada debochada para um amigo, você precise enviar uma resposta formal à uma outra pessoa. Claro que são inúmeras as gafes cometidas, mas vamos com as 5 mais vistas aqui no escritório no ultimo ano! Deixe seu comentário e sugestão para o próximo vídeo! Este vídeo conta com apoio do MPD (Movimento do Ministério Público Democrático).


Jovem ganha direito de ver rapaz que a difamou se desmentir na web



Depois de esperar um ano, Izabela Stelzer Pagiola conquistou na Justiça o direito de ver Lazaro Nascentes Dias desmentir publicamente o relacionamento íntimo que inventou ter tido com ela.

O rapaz teve de publicar em seus perfis no Facebook e no Instagram o texto abaixo, depois de Izabela mover contra ele uma ação por difamação no 2º Juizado Especial Criminal de Vitória (ES), cidade onde moram.

"Eu LAZARO NASCENTES DIAS, em meados de maio/2016, afirmei para meus amigos que havia saído e tido relacionamento íntimo com IZABELA STELZER PAGIOLA. Esclareço, nesta oportunidade, assim como declarei na superintendência técnica da Polícia Civil e nos autos da queixa-crime nº 0017732-64.2016.8.08.0024, que nunca tive qualquer relação, íntima ou não, com a Sr. IZABELA e que tudo não passou de minha invenção. Utilizo esse espaço para me retratar publicamente e pedir desculpas a todos os envolvidos que se sentiram ofendidos pelos transtornos criados pela mentira que inventei, principalmente a ela, que foi diretamente atingida em sua honra, bem como, sua família e seu namorado." Até a publicação desta reportagem, o pedido de desculpa de Lazaro havia tido 16 mil reações no Facebook.

O texto foi escrito pelo advogado de Izabela, Augusto Silveira Luppi Goldner. "Na audiência de segunda [22], perguntei o que a faria se sentir reparada e ela aceitou a declaração pública dele", afirma Goldner, acrescentando que, pelo acordo feito, Izabela abriu mão de pleitear indenização na Justiça Cível.

No Facebook, Lazaro terá de manter a publicação pública por tempo indeterminado. Pelo acordo, ele ainda teve de abrir seu Instagram por 30 dias, onde terá manter a postagem por 90 dias.

De acordo com Goldner, a Polícia Civil fez uma busca na casa de Lazaro, e apreendeu o notebook dele, no equipamento foram encontradas montagens de conversas íntimas entre ele e outras 12 garotas. As falsas mensagens foram anexadas ao processo.

Embora as montagens envolvendo Izabela não tenham sido localizadas, em depoimento na delegacia, Lazaro admitiu que inventou o relacionamento com a jovem.

Em seu Facebook, Izabela comemorou o que chamou de fim do "pesadelo". "Não deixem que caras como esse alimentem esse vício estranho e escroto de mentir e nos machucar para se autovangloriar. Corram atrás da justiça. A gente merece e, no final, sempre vale a pena!", escreveu ela na postagem.

Segundo o advogado, o namorado da jovem chegou a terminar o relacionamento com ela por causa da história inventada por Lazaro. Os dois reataram um tempo depois.

A reportagem tentou contato com Lazaro, mas até a publicação deste texto não obteve retorno.

ADRIANA NOGUEIRA
DO UOL

24/05/2017 19h45

quarta-feira, 17 de maio de 2017

Sofrer ou praticar bullying na infância pode trazer problemas de saúde na fase adulta

De acordo com o estudo, o bullying pode levar ao desenvolvimento de problemas comportamentais e aumentar fatores de risco para doenças cardiovasculares.


O bullying é prejudicial para a saúde tanto de quem pratica quanto de quem sofre, mostra estudo publicado na Psychological Science. De acordo com o estudo, o bullying pode levar ao desenvolvimento de problemas comportamentais e aumentar fatores de risco para doenças cardiovasculares.

Pesquisadores da Universidade de Pittsburgh, nos Estados Unidos, rastrearam mais de 300 homens da primeira série até o início dos 30 anos para mostrar que ser vítima de bullying ou praticá-lo estava ligado a resultados negativos na idade adulta.

O estudo longitudinal envolveu meninos matriculados na primeira série de escolas públicas em 1987 e 1988. Mais da metade dos alunos eram negros e suas famílias recebiam assistência financeira do governo.

Com base em entrevistas após 20 anos de follow-up, os pesquisadores descobriram que os agressores eram mais propensos ao consumo de tabaco e maconha, além de personalidade mais agressiva, hostil e ter passado por situações estressantes quando comparados com as vítimas. Essas, por sua vez, tiveram mais problemas financeiros, se sentiram mais injustamente tratados por outros e foram menos otimistas sobre o seu futuro.

Os resultados mostram que os papéis de agressor e de vítima pareciam continuar até a idade adulta, no entanto, ambos os grupos de homens tiveram impactos negativos na saúde, como fatores de risco para doenças cardiovasculares e outras doenças que podem ser fatais.

Fonte: http://www.onortao.com.br/noticias/sofrer-ou-praticar-bullying-na-infancia-pode-trazer-problemas-de-saude-na-fase-adulta,93420.php

terça-feira, 16 de maio de 2017

Escola é condenada a pagar R$ 10 mil para criança que sofreu bullying

Mãe de ex-aluna ingressou com ação alegando que colégio não tomou providências contra agressões de colegas em razão de sobrepeso.


Uma escola de Campo Grande, que não terá o nome divulgado, foi condenada a restituir R$ 10 mil para a família de uma estudante que sofria bullying dos colegas. A decisão foi tomada após a mãe de criança ingressar com ação judicial, alegando que a instituição de ensino não tomou providências contra as humilhações que a filha sofria. 

A medida foi divulgada pelo Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul nesta segunda-feira (15). A indenização por danos morais foi decidida por unanimidade pelos desembargadores da 1ª Câmara Cível, que desproveram o recurso interposto pela instituição de ensino. 

De acordo com os autos, a aluna era vítima de agressões psicológicas e físicas por parte dos colegas de sala em função de seu sobrepeso. A mãe da garota reclamou para a direção da escola por diversas vezes. Como a questão não foi solucionada, ela retirou a filha da escola e ajuizou ação pedindo ressarcimento pelos transtornos morais e materiais.

A indenização por danos morais soma R$ 10 mil, sendo R$ 6 mil para a menor e R$ 4 mil para a mãe, além do valor de aproximadamente R$ 1 mil por gastos com a troca de escola. De acordo com o processo, "o bullying sofrido pela criança acarretou muitas consequências ruins".

No recurso, a defesa do colégio alegou que "não há provas de que os colegas usaram de violência física ou psicológica para intimidar, excluir ou humilhar a criança”, ressaltando que a condenação foi baseada em meras suposições e por isso deve ser afastada.

De acordo com o Tribunal de Justiça, o relator, desembargador João Maria Lós, entendeu que a escola não dispôs de todos os meios necessários para promover a integração entre os alunos e a garota, mesmo com as reclamações frequentes por parte da mãe.

Decidiu, portanto, que os valores fixados nas indenizações são razoáveis e proporcionais e, por atenderem a função pedagógica da condenação, deveriam ser mantidos. 

“Cumpre ressaltar que a escola fica investida do dever de vigilância e de guarda, devendo preservar a integridade física e moral de seus alunos, ou seja, a instituição de ensino deve desenvolver todos os esforços possíveis no sentido de promover a adaptação do aluno com os colegas de classe, visando sempre o seu bem-estar. Portanto, denego a ordem”, declarou o magistrado.

quarta-feira, 10 de maio de 2017

13 reasons why: Uma reflexão à luz do que a Psicologia Moral já sabe sobre bullying

O seriado define claramente o que entendemos por bullying, as características dos personagens envolvidos em tal fenômeno, bem como a sua inter-relação.



"O que me preocupa não é o grito dos maus. É o silêncio dos bons". 
Martin Luther King


A série "13 reasons why" produto da Netflix, chegou recentemente ao Brasil e tem sido foco de muitas opiniões controversas. Trata-se da história de Hannah Backer, adolescente norte-americana, que comete suicídio após sofrer uma série de intimidações na escola que passa a frequentar, após sua família mudar de cidade em função dos negócios do pai. Ao se matar, deixa com Tony, colega de escola, um conjunto de 13 fitas-cassete, cada uma dedicada a um dos responsáveis, segundo ela, pela sua decisão de se matar. O que representa essa atitude de Hannah? Crueldade? Morbidez? O que ela realmente está querendo dizer? Vingança, simplesmente? Chamar a atenção, como acreditam alguns dos envolvidos? 

Quando não me sinto pertencente 

Antes de tentar responder a todos estes questionamentos, vamos analisar aqui o que a história de Hannah nos conta. Em primeiro lugar, fala das dificuldades que muitos adolescentes encontram de pertencer em suas escolas – sejam eles novatos ou não. Por pertencer, queremos dizer ser aceitos e respeitados em suas particularidades, em suas diferenças e se sentirem valor em seu espaço de convivência, a escola. Em paralelo a história da protagonista, correm as de Jessica e Alex, novatos como ela, que se submetem – mesmo em desacordo, na maioria das vezes – aos populares da escola e por isso acabam se afastando de Hannah e a de Courtney, a garota com fama de boazinha, reprimida na expressão de sua opção sexual, entre outras razões, por ser filha de um casal homossexual e ainda a história de Clay, o amigo mais próximo da protagonista, o espectador, que já havia vivido os seus dias de alvo anteriormente. 

O Bullying e Cyberbullying

O segundo ponto abordado pelo seriado é sem dúvida o Bullying/Cyberbullying, contato da perspectiva de quem o sofre, o alvo. Seu sofrimento relatado nas treze fitas provoca diferentes repercussões em quem o pratica – os autores – bem como em quem assiste, os espectadores. Evidencia aqui que, numa situação de bullying, todos sofrem - alvos, autores e espectadores. Além disso, chama a atenção para dois outros pontos presentes sempre que situações de intimidação sistemática acontecem: o fato de ocorrer longe dos olhos das autoridades e a importância do olhar atento aos sinais de quem educam – a família e a escola.

Assim, o seriado define claramente o que entendemos por bullying, as características dos personagens envolvidos em tal fenômeno, bem como a sua inter-relação. Comecemos pela definição, e aqui optaremos pela de Dan Olweus, da Universidade de Bergem (Noruega), por ter sido ele o primeiro pesquisador a chegar a uma definição precisa deste tipo de violência, diferenciando-a das brincadeiras comuns entre pares e incidentes pessoais. Diz o autor que um aluno torna-se alvo de bullying quando sofre ações agressivas, repetidas e intencionais ao longo do tempo, praticada por um ou mais alunos, causando um sofrimento constante, caracterizado por angústia e dor. Aponta ainda para a existência de uma relação desigual de poder, já que "[...] o (a) aluno (a) exposto (a) às ações negativas tem dificuldades para defender-se" (OLWEUS, 1993, p.139). Certamente identificamos Hannah (Alex, Jessica, Courtney, Clay e tantos outros da ficção ou reais) nesta definição, não? A tais características somam-se a presença das testemunhas, notórias na ficção aqui descrita, e o fato de que essa violência ocorre entre pares, ou seja, neste caso, entre alunos.

Passemos agora aos personagens envolvidos em uma situação de bullying e aqui, Hannah será nosso foco inicial. Começaremos então a falar do alvo de bullying, que caracterizado como frágil, se vê com tão pouco valor, a ponto de acreditar que mereça ser provocado, diminuído, não tendo força para reagir (Tognetta, 2013). Fala-se ainda de indefensibilidade própria e pessoal (Aviles, 2006) na medida em que não dispõe de ferramentas psicológicas de defesa para afrontar o maltrato. No episódio 6, uma reflexão de Hannah traduz o que foi dito anteriormente: "Não pude me mover, não pude levantar ou ir embora ou gritar. Qualquer coisa teria sido melhor que sentar lá, pensando que de algum modo tinha sido minha culpa. Pensando que ficaria sozinha para sempre." O alvo nem sempre é tímido, calado e sensível e acaba reagindo de forma a irritar ou a provocar ainda mais os seus algozes, caracterizando um perfil que vem sendo denominado de vítima provocadora. (Tognetta, 2013; Avilés, 2013). Seria Hannah uma vítima provocadora? Acreditamos que não era o seu perfil. Ela era uma garota frágil, que foi aceitando todas as provocações que foram lhe sendo feitas, como se não se importasse com elas – e como se as merecesse - muito mais por não saber o que fazer e ver fracassar todos os seus pedidos de socorro, vendo no suicídio a única saída para o seu sofrimento. O que ela faz ao gravar as fitas além de buscar responsabilizar cada um dos envolvidos em sua história, é uma tentativa de sensibilizá-los com a sua dor, para que talvez eles mesmos pudessem enfrentar as suas próprias, já que todos, de uma forma ou de outra também as tinham e buscavam, na intimidação, uma forma de lidar consigo mesmos. 

Falemos então do autor – ou dos autores – de bullying. No seriado, representado por Alex, Jessica, Justin e principalmente por Bryce. Unidos na intimidação que fazem a Hannah, a protagonista, muitos deles já foram alvos de violência daqueles com os quais se associaram, como forma de se protegerem de suas próprias fragilidades e da exposição delas pelos demais. Assim, a caracterização dos autores de bullying apontados pelas pesquisas (Tognetta 2010; Tognetta & Vinha, 2013; Tognetta e Rosário 2012) fica claramente retratada no seriado, ou seja, o autor de bullying tem uma hierarquia de valor invertida, prevalecendo os valores individuais (valentia, intimidação, etc.) sobre os morais (humildade, justiça, etc.). Além disso, carecem de sensibilidade moral, ou seja, a capacidade de se sensibilizar com a dor do outro. 

Certamente, o próprio funcionamento do "High School" americano favoreceria a prevalência dos valores não morais – força, beleza, rendimento esportivo... Clay, um dos expectadores, no episódio 13 aponta: "Acho que em nossa sociedade os valores estão invertidos", quando Bryce é ovacionado ao chegar a escola, após seu desempenho em uma partida e todos sabiam o quanto ele era responsável pelas intimidações e outras formas de violência que ocorreram na escola.

Para completar a tríade envolvida nas situações de bullying, não podíamos deixar de falar dos expectadores, representados aqui por Clay, mas também pelos demais personagens envolvidos na trama quando não estavam à frente das intimidações. Como se viu no último episódio, nenhum dos envolvidos estava indiferente ao que acontecia com Hannah, ou seja, todos haviam presenciado – e executado – algum tipo de constrangimento sofrido pela protagonista. A teoria mostra que grande parte dos que contemplam seus colegas sendo maltratados acredita que o que está acontecendo não lhes diz respeito, que é um assunto entre o autor e o alvo, e que eles devem resolvê-lo. Estes são os chamados espectadores indiferentes (Avilés, 2013). Entretanto, muitos deles acreditam que deveriam fazer algo, mas não o fazem porque não sabem exatamente como ajudar, ou ainda temem ser os próximos alvos – aqui podemos encaixar principalmente Clay, que ao longo dos 13 episódios vai tomando consciência de que a máxima "Não fazer nada já e fazer alguma coisa" se aplica em situações de bullying. 

Salmivalli et al (1996) realizaram estudos em que nomearam os espectadores de acordo com o seu posicionamento na situação de bullying que presenciam. Desta forma, nomeou-se assistentes e reforçadores aqueles que se juntam aos autores (idealizadores dos maus tratos) e fornecem um feedback positivo para as intimidações (por exemplo, rindo, aplaudindo, ou apenas dando audiência) – no seriado, todos os demais autores quando não estavam envolvidos diretamente na agressão . Podem ser também espectadores propriamente ditos, os que ficam afastados das situações de bullying, como no caso da participação de Clay, na maioria das situações. Finalmente, os defensores, aqueles que tomam partido das vítimas, consolando e apoiando-as. 

O papel da educação – a família

Além de caracterizar a situação de bullying, o seriado traz pelo menos mais um ponto extremamente importante de reflexão: o papel daqueles responsáveis pela educação, nas figuras da família de cada um dos envolvidos e da escola, representados pelos professores, o diretor e mais especificamente, o orientador. 

Comecemos pelo papel da família e depois da escola, ambas envolvidas e complementares na tarefa de educar. É sabido que a família tem papel importante no fortalecimento de meninos e meninas para não serem vítimas e/ou agressores de bullying. Para tanto, a educação que recebem deve direcionar crianças e jovens a admirar valores morais tão desejáveis como o respeito, a tolerância e a justiça e não o poder sobre o outro, ou a não aceitação da diferença. Além disso, é primordial que a relação dentro da família seja pautada na confiança e desenvolvida através do diálogo. Agrega-se a estes fatores o olhar atento dos pais às mudanças de comportamento de seus 
filhos, tais como isolamento, irritação, agressividade, resistência a ir à escola, poucos amigos, entre outros.

No desenrolar dos episódios é possível observar diferentes estilos de educação parental, do negligente – notadamente a família de Bryce, sempre viajando, completamente ausente da vida do filho; passando pelo permissivo – em que o afeto é valorizado, mas pouquíssimas regras são colocadas (aqui podemos pensar em Courtney e porque não em Hannah e Clay); alguns exemplos do estilo mais autoritário, como Alex e Jessica e finalmente, a busca por uma modelo autoritativo, [1] especialmente pelos pais de Clay que vão alterando a forma de relacionamento com o filho. Contudo, seria a família a única responsável por essa formação do sujeito? 

O papel da educação – a escola 

A resposta à pergunta anterior de que a família seria a única responsável pela formação humana de crianças e jovens ainda parece ecoar em nossos ouvidos – não é possível mais acreditar que seja verdadeira essa resposta. Savater, filósofo espanhol contemporâneo, (2005) afirma que a família e escola têm papéis complementares na formação do indivíduo, ressaltando ainda que se houver falha na primeira – no âmbito da família- não significa que a segunda – de responsabilidade da escola – não terá êxito. 

Passemos então a tratar da escola: O que cabe a ela? Além dos conteúdos das diferentes disciplinas descritas no currículo da escola, à essa instituição de educação cabe também o cuidado com as relações interpessoais, para além das campanhas puramente informativas. Na série, o posicionamento da escola, em relação à formação mais global dos alunos, acontecia sempre após um incidente em que estes estivessem envolvidos. Foi assim após a morte de Jeff, que a escola avaliou ser por embriaguez e no dia seguinte espalhou cartazes orientando a não beber e dirigir e após a morte de Hannah, quando a escola ateve-se à questão do suicídio, orientando, novamente através de cartazes, os jovens a procurar ajuda, além de promover uma palestra aos pais sobre o tema. Nesta, quando o tema bullying é levantado por alguns dos presentes, ele é negado pelo diretor, até que a mãe de Hannah Baker entra na reunião e evidencia um problema até então não visto pela escola: o desrespeito que permeava a relação entre os alunos da instituição, pelos registros ofensivos nas paredes do banheiro.

Certamente, a escola é um espaço público, é a instituição em que o indivíduo irá aprender a viver em sociedade, o que possibilitará ao sujeito "o reconhecimento do outro e a busca por coordenar perspectivas distintas, administrar conflitos de uma maneira dialógica e justa, estabelecer relações e perceber a necessidade das regras para se viver bem" (Vinha & Tognetta, 2013, p. 4). 

As cenas marcadas pelo desrespeito que foram o foco da trama revelaram que as relações entre os alunos eram pautadas no individualismo e na competitividade. O outro, que não fosse considerado amigo, era visto, na melhor das hipóteses, com indiferença e, na pior delas, com inimigo e por isso passível de ofensas, intimidações e outras tantas formas de desrespeito. A forma com a escola lidava com os conflitos interpessoais só reforçava este panorama. 

Indubitavelmente já sabemos muito a esse respeito: a perspectiva construtivista, que tem em Piaget uma das suas mais fortes referências teóricas, considera os conflitos interpessoais como uma possibilidade de aprendizagem e fundamentais para o trabalho com valores e regras. Assim, as intervenções pautadas no diálogo têm como finalidade maior, auxiliar os envolvidos a reconhecer os pontos de vista dos outros e a resolver seus problemas de forma mais assertiva. Ao falarmos tomamos consciência de nossos atos e os elaboramos. Aquilo que vira palavra é passível de intervenção, de mudança. Nada disso ocorria na escola de Hannah. Os alunos não eram ouvidos – e quando o eram, de forma superficial - e os conflitos resolvidos de forma punitiva, sem reflexão. É evidente que em um contexto em que falta a intervenção ou o olhar cuidadoso daqueles que educam a intensidade das agressões tende a aumentar (Yoon et al, 2011). 

Numa escola em que a convivência ética fosse um valor (Cowie, 2005), certamente o sofrimento de Hannah não passaria despercebido, fosse ele produto das relações estabelecidas, fosse ele fruto de um estado depressivo, ou uma combinação dos dois. 

Sabemos que o suicídio destacado na série evidencia também uma espécie de eufemismo moderno que torna o suicida, um herói. 

Desvencilhar –se dessa ideia seria então possível no mundo adolescente de hoje?

É possível quando se tem um clima de "pertencimento" na família e na escola cujos espaços de diálogo assegurem a certeza de que o jovem que tanto deseja ser valor, realmente o seja podendo dizer o que pensa, tendo espaços para expressar o que sente. Isso posto, há evidências deste feito na literatura: quando os relatos são desacreditados ou minimizados pelos adultos que não intervém, há um aumento da sensação de desamparo nas vítimas (Craig et al., 2.011). 

Em resposta às primeiras perguntas

O que representa essa atitude de Hannah? Crueldade? Morbidez? O que ela realmente está querendo dizer? Vingança, simplesmente? Chamar a atenção, como acreditam alguns dos envolvidos?

As respostas a esse conjunto de perguntas devem ter sido percebidas pelo leitor ao longo do texto quando caracterizamos os pontos envolvidos na trama pós moderna que confunde pais e professores se devem ou não permitir que seus filhos ou alunos a assistam. 
Em uma palavra: a série gera uma crise. E a cada crise, um desequilíbrio cuja volta ao equilíbrio é um desejo. Equilibrar-se novamente, neste sentido, é fazer valer a ideia de que os alertas estão dados; resta-nos a esperança de que pais e professores possam, pelo estudo e pelo diálogo, se interar das novas perspectivas que precisam, de uma vez por todas, ser repensada também em nossos cursos de licenciaturas: a questão da convivência e como fazer com que ela seja ética na escola e fora dela. 

Referências:
AVILÉS, J. M. (2013) Bullying: Guia para educadores. Campinas (SP): Mercado das Letras.

COWIE, H. "El problema de la violencia escolar: trabajando las relaciones". In: Sanmartín, J. (Coord.) Violencia y escuela.. Valencia: Centro Reina Sofía para el estudio de la violencia. pp. 183-187, 2005.

CRAIG, K., BELL, D., & LESCHIED, A. (2011). Pre-service teachers" knowledge and attitudes regarding school-based bullying. Canadian Journal of Education, 34(2), 21-33. 

OLWEUS, D. Bullying at school: what we know and what we can do. Blackwell: Oxford, 1993. 

SAVATER, F. O valor de educar. São Paulo: Planeta do Brasil, 2005.

TOGNETTA, L. R. P. (2010) Bullying e intervenção no Brasil: um problema ainda sem solução In: Actas do 8º. Congresso Nacional de Psicologia da Saúde: Saúde, Sexualidade e gênero. ISPA – Instituto Universitário. Lisboa, Portugal. Anais eletrônicos. ISBN 978-972-8400-97-2

TOGNETTA, L.R.P.; VINHA, T. Reconhecimento de situações de bullying por gestores brasileiros e as intervenções proporcionadas. In: LINARES, J. J. G. et al. Investigación en el ámbito escolar: un acercamiento multidimensional a las variables psicológicas y educacionales. Almeria/Espanha: Editorial GEU, p. 227-232, 2013.

TOGNETTA, L.R.P.; ROSÁRIO, P. Bullying: dimensões psicológicas no desenvolvimento moral. Revista Estudos em Avaliação Educacional, 24(56), 106-137, 2013.

YOON, J., BAUMAN, S., CHOI, T., & HUTCHINSON, A. S. (2011). How South Korean teachers handle an incident of school bullying. School Psychology International, 32(3), 312-329. doi: 10.1177/0143034311402311

As autoras

Luciana Zobel Lapa é Mestranda em Educação pelo Programa de Pós Graduação da Faculdade de Ciências e Letras – Unesp de Araraquara. Membro do GEPEM – Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Moral.

Luciene Regina Paulino Tognetta é Doutora em Psicologia Escolar e professora do Programa de Pós - Graduação da Faculdade de Ciências e Letras – Unesp de Araraquara. Líder do GEPEM – Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Moral.

Ambas, pertencentes ao GEPEM, têm sistematizado, em parceria com pesquisadores de universidades internacionais, programas de intervenção ao bullying e cyberbullying no Brasil.

Fonte: http://www.ogirassol.com.br/opiniao/13-reasons-why--uma-reflexao-a-luz-do-que-a-psicologia-moral-ja-sabe-sobre-bullying

terça-feira, 9 de maio de 2017

A diferença prática do cyberbullying para o bullying


E como é esse elemento de disparidade que faz com que sejam tão impactantes 13 Reasons Why, Baleia Azul, revenge porn e outros fenômenos modernos do tipo.


Se você der um Google em “cyberbullying”, encontrará definições como a do Conselho Nacional de Prevenção contra Crimes dos Estados Unidos: “o processo de usar a internet, celulares ou outros dispositivos para enviar posts, com textos ou imagens, com o intuito de machucar ou humilhar outra pessoa”. Só que verbetes desse tipo, de dicionários e afins, não ajudam, de fato, a compreender o fenômeno. O cyberbullying por muito tempo foi tratado com desdém – e ainda é, por alguns. Quem nunca ouviu argumentações como “mas ela pediu por isso, pois topou a foto”, quando se debatem casos como os de revenge porn, nos quais um criminoso (não há outra forma de ser chamado) vaza fotos íntimas (normalmente, de um(a) ex-amante) com o objetivo de tornar embaraçosa a vida alheia? Também há aqueles que – acredite! – defendem que o ódio virtual que valentões conectados espalham contra seus alvos, principalmente quando ambos os lados ainda estão na fase da adolescência, seria algo, digamos, “comum”. Já ouvi muito (inclusive, de ditos experts): “Não é diferente de quando, antes da era on-line, estudantes se zoavam na escola (o bullying ‘costumeiro’)”. Bobagem. Repito, e acrescento: bobagem irresponsável que acaba por alimentar e defender um comportamento que pode (literalmente) acabar com a vida de inocentes. O cyberbullying é um fenômeno de contornos trágicos, que tem impactado a sociedade, tanto no âmbito coletivo, quanto no individual / familiar. De uma forma nunca antes equiparada por outros tipos de agressões, como as “zoeiras” do colégio.

Quando eu tinha meus 12 anos, eu era um garoto nerd, típico alvo de bullying na escola. As humilhações eram várias: tirar meus óculos, zoar os pelos que começavam a crescer em meu rosto, passar rasteiras no intervalo de aulas, se agrupar com outros garotos para tirar minha camiseta e me jogar no lixo do pátio do colégio… enfim, era enorme a criatividade dos valentões. Entretanto, ainda era um sofrimento estritamente individual. Minha reação inicial, naquela idade, foi me distanciar ao máximo dos agressores – na verdade, por um tempo, de outros jovens, em geral –, isolar-me em meu quarto, com meu videogame e meu PC (com o qual, admito, realizava traquinagens, hackeando o computador daqueles que me enchiam na vida real), e distrair-me com atividades que eu podia fazer sozinho, em busca de um ponto de equilíbrio. Depois de um período apelando a essa tática de solidão, retornei ao mundo, mais preparado e balanceado, e enfrentei os bullies.

Dei a volta por cima. Encarei o problema sozinho e tive a opção de apagá-lo da memória; não só da minha, mas também da coletiva. Naquela época (anos 90), ninguém poderia rever, em meu Facebook, Twitter, ou perfil no YouTube, o mal que cheguei a sofrer. Um que, para um adulto, pouco significado tem. Mas, para a criança que fui, era devastador.

Essa é uma das maiores gravidades do cyberbullying. Hoje, o assédio não é mais restrito a um canto de um corredor no colégio. Ele se tornou público e impossível de ser deletado. Fica na memória, para sempre, circulando pelas redes sociais.

Tome como exemplo uma história relatada em reportagem recente de VEJA acerca de como os haters têm tomado a internet de assalto. No caso, a estudante L.P. (menor de idade, por isso as siglas), de 15 anos, admitiu ter promovido uma campanha de cyberbullying contra uma menina que era seu desafeto no colégio. L.P. se uniu a outras quatro meninas para espalhar mentiras, criticar o corte de cabelo, humilhar seu alvo. O comportamento agressivo começou na escola, mas logo migrou para o ambiente digital. Foi na rede que tomou dimensões extremamente danosas. A garota que sofreu os ataques se viu isolada, e teve de mudar de escola. A agressora demorou a notar o dano que causava. Quando finalmente se tocou do mal que havia feito à colega, recorreu a uma psiquiatra para lidar com a situação; e, no fim, também ela escolheu pedir transferência de colégio. Tanto quem atacou, quando quem se viu atacado, sofreu as consequências do cyberbullying.

Há, ainda, situações mais extremas. Como quando, em 2010, o estudante americano Tyler Clementi, de 18 anos, cometeu suicídio após seu colega de quarto na faculdade ter transmitido, ao vivo, pela internet, um encontro sexual que ele teve com outro garoto. No Canadá, em 2010, outra adolescente, Amanda Todd, de 15 anos, também protagonizou tragédia similar: matou-se, depois de ler uma carta de despedida no YouTube, por efeito da depressão causada por um hater que vazou fotos dela nua.

Segundo uma pesquisa recente, 75% dos jovens americanos já se depararam com casos de cyberbullying. Enquanto 30% relataram ter sido alvo das agressões virtuais, apenas 12,5% admitem ter praticado os ataques (um número evidentemente subestimado, pois se acredita que a maioria não assume o crime). O que piora ainda mais a situação é que as vítimas não deixam de acessar as redes sociais – aliás, quase 90% desses mesmos adolescentes têm perfis no Facebook; e é de se imaginar que uma grande parcela dos outros 10% deve ter conta no Twitter, no YouTube, ou em alguma outra plataforma similar. Eles não se afastam, como poderia ser de se esperar, da vida on-line. Pelo contrário, tendem a viciar nesses sites, isolando-se cada vez mais, e muitas vezes entrando em um triste ciclo de ódio a si mesmo.

É como me disse, certa vez, a psicóloga e socióloga americana Sherry Turkle, professora do conceituado MIT, e autora do livro Alone Together (Sozinho Juntos), referência nesse tema: “As mídias sociais passam uma impressão ilusória de que estamos sempre acompanhados, respaldados. Então, mesmo quando um jovem sofre nesse ambiente, ele acha que só recorrendo a esse mesmo espaço é que conseguirá se livrar de seus problemas. No fim, acaba por se isolar cada vez mais do mundo real”.

Essa síndrome é o que faz nascer atrocidades como o jogo Baleia Azul. Aquele no qual, por meio de grupos digitais, seja no WhatsApp ou no Facebook, promovem-se uma série de provas a adolescentes; nas quais eles têm de realizar (e filmar) uma série de mutilações, que culminariam no suicídio. Vale frisar que ninguém sabe a origem certa dessa atrocidade; nem se ela existe, de fato, ou se virou um daqueles mitos urbanos que são seguidos por jovens perturbados. O que se sabe é que a internet não só faz nascer esses fenômenos perigosos, como os agrava. Vide, por exemplo, um estudo detalhado em reportagem de VEJA desta semana: segundo ele, o uso das novas tecnologias prejudica a saúde mental de adolescentes, agravando distúrbios que já possuíam. Em outras palavras, quanto mais eles mergulham no mar virtual, mais difícil é sair dele (e, pior, sair dele são e salvo). 

Nesses contornos, não fica exagerado o cenário pintado pela protagonista da série popular e polêmica 13 Reasons Why (13 razões para), do Netflix. Nela, em determinado episódio, a protagonista, uma adolescente, aponta como um dos motivos para se suicidar a forma como ela teve sua intimidade desnudada em Facebook, Snapchat, Instagram, por meio de uma prática usual de cyberbullying. Não muito longe dos casos reais relatados neste post.

A internet, em especial para a geração que já nasceu com ela, tem se assemelhado cada vez mais a uma distopia no estilo 1984 – o clássico romance de ficção científica, do britânico George Orwell (1903-1950), que apresentou, por exemplo, o conceito de Big Brother. Chamam a atenção dois elementos da ficção que hoje podem ser vistos no Facebook. O primeiro era o chamado “dois minutos de ódio”. Tratava-se, em 1984, de um ritual no qual os habitantes dessa realidade maluca destilavam sua raiva, xingando e vilipendiando os alvos do regime. Numa lógica que se parece demais – e isso é aterrorizando – com o cyberbullying. O segundo conceito desenhado em 1984, e que tem muito a ver com esse universo de Facebook e afins, é o do “duplipensamento”. O termo expressa a convivência, em espantosa harmonia, de duas ideias conflitantes. No cenário orwelliano, o duplipensamento era uma das formas de controle social executadas pela autocracia. No caso do Facebook, é perfeito para descrever como, ao mesmo tempo em que os jovens se sentem mais próximos de gente que pensa como eles, que os defende, quando acessam as redes; eles também, nessas mesmas redes, têm contato constante com o ódio (cada vez mais direcionado a tudo e a todos).

Com isso, temos nos visto rodeados por um mundo que assustadoramente parece ter sido extraído de um episódio – daqueles de dar calafrio – da ótima (e polêmica, também) série Black Mirror, do Netflix. O que é preciso se perguntar: como queremos viver – e sobreviver – nessa nascente distopia digital? Destilando raiva, mentiras, fofocas, ódio; ou combatendo-os?

Por Filipe Vilicic
6 maio 2017, 16h45 - Atualizado em 6 maio 2017, 17h03

Fonte: http://veja.abril.com.br/blog/a-origem-dos-bytes/a-diferenca-pratica-do-cyberbullying-para-o-bullying/