terça-feira, 31 de outubro de 2017

Marcas do bullying vão de baixa autoestima a tentativa de suicídio

Fotografia de menina de 12 anos com a mãe, que não querem ser identificadas, no apartamento onde moram. A menina negra e adotada, sofreu bullying em diversas escolas particulares de elite em BH. Foi diagnosticada com depressão grave em 2016, ameaçou se matar várias vezes, desenvolveu distúrbios alimentares e fobias (não conseguia sair do quarto, não podia encostar ou ver o uniforme da escola ou qualquer material escolar, como cadernos, canetas, lápis). Hoje faz diversos tipos de terapia, toma remédios, e tem aulas particulares em casa. Está afastada da escola há quase um ano.



A fobia escolar de Lívia, de 12 anos, chegou ao ponto de a menina não conseguir segurar um lápis. O uniforme, os livros, o caderno, tudo a fazia passar mal. Suava, entrava em pânico, dizia que era melhor morrer. Ameaçou se jogar da janela e pular de um carro em movimento.

A menina foi alvo de bullying em vários momentos da vida, até desenvolver uma grave depressão no ano passado, conta a mãe, a pedagoga Maria Clara, 51 –os nomes foram trocados para preservar a identidade das duas.

Após os pensamentos suicidas, a menina foi afastada da escola por recomendação médica e perdeu os anos letivos de 2016 e 2017.

O bullying, segundo especialistas, afeta não somente a criança e o adolescente, mas também suas famílias e, em casos mais graves, deixa marcas por toda a vida.

No último dia 20, um estudante atirou contra colegas em uma escola em Goiânia e matou dois deles. Ele disse ter sido vítima de bullying, o que reacendeu o debate sobre o tema.

No caso de Lívia, o preconceito racial foi um componente importante. Ela é negra e foi adotada por pais de classe média alta em Belo Horizonte. Em dois anos, passou por quatro colégios. Alguns de elite, com maioria branca, e outros mais diversos, onde o problema persistiu.

"A sociedade é tão racista que basta a criança ser um pouco mais clara para se achar no direito de chamar o mais escuro de macaco, gorila", conta Maria.

Lívia foi hostilizada e agredida fisicamente. Ninguém queria fazer trabalhos com ela nem a convidava para atividades. "Talvez eu nunca saiba direito o que aconteceu com a minha filha na escola. Muita coisa ela fez questão de esquecer", diz a mãe.

Além da exclusão em sala, a menina foi atacada por mensagens na internet, que incluíam incitação ao suicídio.

De acordo com especialistas, o cyberbullying pode ser ainda mais danoso. "É pior, porque nem no fim de semana a criança consegue escapar", diz a pedagoga Cleo Fante, autora do livro "Fenômeno Bullying".

Os primeiros sintomas da depressão de Lívia apareceram em 2016: irritabilidade, desânimo, falhas na memória e dificuldade de concentração. Dois meses depois, após ser chamada repetidas vezes de "monstro", ela deu um tapa em uma menina.

Depois disso, não conseguiu mais retornar ao colégio. A depressão se agravou. Vieram as ameaças de suicídio, a fobia escolar. A menina passou 40 dias sem sair de casa, trancada em um quarto.

"Nesse momento veio também a compulsão alimentar. Ela engordou 17 quilos em um mês", conta a mãe. Hoje Lívia está estável, mas toma quatro remédios, faz terapia três vezes por semana e tem aulas particulares em casa, para tentar vencer o medo.

Em muitos casos, as consequências do bullying aparecem com mais força na vida adulta. O eletricista Marcos, 30, cujo nome também foi trocado, largou a escola por não suportar a perseguição.

Ele faz tratamento para depressão e tentou se suicidar. "Foram várias tentativas, mas amigos conseguiram me impedir. Com a psicóloga, notei que isso vem desde a infância, pelo bullying", conta ele, que levava chutes, socos e tapas no colégio, no interior de Minas Gerais.

Atualmente, os remédios psiquiátricos dificultam o trabalho de eletricista –ele não pode usar certas máquinas, como furadeiras. Assim como Lívia, Marcos é negro e diz que a questão racial foi um dos motivos para o bullying. "Não adiantou mudar de escola, a perseguição continuava."

Para Lucas, que também pediu para não ser identificado, trocar de colégio ajudou. Mesmo assim, o bullying teve consequências graves.

Com 25 anos, o produtor faz terapia e já teve crises de ansiedade. Lucas diz que o bullying na escola, em Goiânia, tinha motivação homofóbica.

"Era empurrado, intimidado. As professoras fingiam não ver esse bullying homofóbico, para ver se a criança 'se corrigia'", diz. A experiência o deixou com um profundo medo de rejeição, o que prejudica sua autoestima e relacionamentos atuais.

A especialista em neuropsicologia Nadia Bossa afirma que o bullying pode afetar a saúde física e mental. "É uma situação de extrema tensão, que provoca um desequilíbrio celular e psíquico. As consequências disso ao longo do tempo são severas", explica.

Lucas lembra ainda que, se reclamasse com adultos, a situação piorava. "Os alunos ameaçavam me bater", diz.

"Contar para o adulto pode ser um terror, por isso eles param de contar. A ação dos próprios alunos é 75% mais eficaz do que a intervenção de adultos. O colega, que está de espectador, pode falar: 'Para, nada a ver isso'", explica a pedagoga Telma Vinha, professora da Unicamp.





O advogado Alexandre Saldanha, 33, passou pela mesma experiência de contar para uma diretora e se arrepender. Ele afirma ter superado os dez anos de perseguição na escola ao se tornar um especialista no tema.

O curitibano começou a estudar o bullying na faculdade e hoje dá palestras, lidera grupos de apoio e processa colégios na Justiça. "Só sendo obrigadas a pagar indenizações que as escolas vão se preocupar com a prevenção", diz.

O promotor e assessor em educação do Ministério Público de SP, Antonio Carlos Ozório Nunes, afirma que é preciso cuidado com a judicialização do problema. "Primeiro os pais devem esgotar todas as possibilidades de diálogo com a escola. A solução deve ser mais pedagógica", afirma.

Alexandre conta que foi perseguido durante toda a vida por ser "gordinho e desajeitado". A falta de coordenação motora era resultado de uma paralisia branda de um lado do corpo.

Ele mudou de escola sete vezes, mas os apelidos de "aberração", "coisa" e "Gardenal" o seguiram. Aos poucos, Alexandre se tornou introspectivo, acuado. Passava o recreio na biblioteca, lendo, para fugir dos agressores.

"Não era por incapacidade minha de socializar ou de lidar com a frustração, como dizem algumas pessoas. Era incapacidade de lidar com a humilhação todos os dias."

Especialistas alertam que, nesses casos, é importante acolher a vítima, e não culpá-la. "Ela não é responsável pelo bullying. Há crianças que são um alvo frágil, por isso se trabalha a autoestima, a assertividade, mas sem culpabilizar", diz Vinha, da Unicamp.

Por ser um alvo recorrente, Alexandre conta que sentia muita raiva. Mas conseguiu, segundo ele, dar vazão aos sentimentos por meio de música, poesia, desenho e o esporte. "É normal sentir raiva, mas é o que você faz com isso que importa", defende.

Na vida adulta, ele afirma que ajudar vítimas de bullying foi a sua forma de seguir adiante e "se curar". "O bullying foi o período mais escuro da minha vida, mas hoje eu encontrei o meu caminho."

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ENTENDA



Como identificar o bullying e o que fazer
No bullying, os ataques são intencionais, repetitivos e têm como objetivo maltratar e humilhar; não há justificativa evidente para as agressões. Ele é realizado entre pares –ou seja, entre alunos, mas com uma desigualdade de poder– e na presença de 'espectadores'
Quem é considerado mais frágil, seja pela renda, orientação sexual, religião, origem, cor ou aparência. Pessoas tímidas ou com baixa autoestima também são alvos, assim como alunos que se destacam por coisas positivas, como beleza e boas notas
Possíveis sinais de que a criança sofre bullying
- Mostra-se triste frequentemente
- É a última a ser escolhida em atividades e fica isolada ou perto de adultos no recreio
- Tem piora nas notas
- Anda com ombros encurvados, cabeça baixa e não olha no olho
- Usa desculpas para faltar à aula
- Tem mudanças extremas de humor
- Gasta mais dinheiro que o habitual na cantina para dar lanche aos outros
- Aparece com hematomas após a aula
- Capacitar funcionários e orientar pais
- Explicar as consequências, para que alunos não achem graça
- Estar junto no recreio para criar confiança
- Acionar os pais e discutir soluções, ouvindo a opinião da vítima
- Em casos graves, acionar autoridades
- Observar os filhos
- Acionar a escola e discutir soluções
- Não dizer coisas do tipo "ignore" ou "não ligue"
- Estimulá-los a perceber suas habilidades para resgatar a autoestima
- Se preciso, buscar a ajuda de psicólogos
- Repreender suas ações e mostrar o mal que ele está causando ao outro
- Fazer com que ele conserte o dano causado
- Trabalhar valores como respeito às diferenças



Bullying X conflito



Vítimas mais comuns


COMO IDENTIFICAR

Na escola
Em casa

COMO AGIR

O que a escola deve fazer?
O que os pais devem fazer?
Como proceder com o agressor?
Fontes: Cartilhas do CNJ e do Ministério Público e especialistas




Por Folha de S. Paulo MARINA ESTARQUE e JÚLIA BARBON
29/10/2017 02h00
Imagens/Alexandre Rezende e Theo Marques/Folhapress
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As escolas que venceram o bullying

Na contramão da maior parte das instituições de ensino do País, que ainda não possuem práticas para coibir a discriminação, alguns colégios já adotam modelos bem-sucedidos para assegurar a boa convivência entre os alunos 
COMBATE Para coibir o bullying, alunas do Bandeirantes convidam colegas para atividades de integração

A imagem de um jovem cabisbaixo, isolado em um dos cantos do pátio, ou de uma criança acuada após ter sido vítima de provocações começa a se tornar rara em algumas escolas do País. Apesar de  numericamente ainda serem poucas, instituições de ensino têm desenvolvido metodologias específicas para combater a intimidação e se transformado em exemplos na batalha contra a discriminação e a propagação do ódio no ambiente escolar. O caminho não é simples, mas os resultados das iniciativas mostram que é possível coibir a prática.


Um desses colégios é o Bandeirantes, um dos mais tradicionais de São Paulo. Lá, as estudantes Mariana Avelar, 14 anos, e Isabela Cristante, de 12, fazem parte dos grupos de ajuda do Programa de Combate ao Bullying. Elas foram escolhidas pelos demais alunos para participar de dois dias de capacitação com uma equipe de professores universitários e psicólogos.
Por meio de situações hipotéticas, o treinamento deixou claro o que é bullying e como elas deveriam agir em diferentes casos. “As pessoas mais isoladas são aquelas com gostos diferentes da maioria. Tentamos nos aproximar até que o colega se sinta confiante para conversar”, diz Mariana, estudante do 9º ano. “Aprendemos que, às vezes, o problema é maior do que parece, e precisamos levá-lo aos orientadores”, conta Isabela, da 6ª série. Os estudantes também conversam com quem presencia ou pratica o bullying. “O agressor se conscientiza mais rapidamente” , afirma Isabela.Com pulseiras para identificação, os participantes percorrem a escola auxiliando nos casos em que percebem o isolamento. A estratégia está funcionando. “Observamos a redução de casos”, afirma Marina Schwarz, orientadora da escola. “Hoje temos mais acesso aos episódios de provocação, que normalmente ocorrem por trás das autoridades.”
CONSCIÊNCIA A orientadora Edna e o estudante Igor Bomfim, do Soka (SP). “Se passar dos limites, já não é brincadeira”, diz ele 


Outro colégio que adotou medidas para coibir o bullying é o Soka, também de São Paulo. Há dois anos, a escola organiza palestras com advogados e psicólogos. “Conversamos com os pais sobre a responsabilidade deles em verificar os celulares dos filhos. É preciso identificar se há indícios de bullying nas conversas em grupos de redes sociais”, afirma o diretor James Jun Yamauti.A instituição também capacitou orientadores para dar assistência a alunos que chegam de outras escolas. “Trabalhamos com jovens que tiveram dificuldade de adaptação para que tenham um entrosamento melhor”, afirma Edna Zeferino Menezes, assistente de orientação educacional. Na sexta-feira 27, a escola deu início à semana do “Preconceito Não”, com palestras sobre direitos da população negra, questões de gênero e indígenas e a trajetória da população LGBT. “A ideia é que os alunos reflitam sobre questões que interferem diretamente no bullying e identifiquem se já vivenciaram situações semelhantes”, explica Yamauti. “Os constrangimentos diminuíram bastante. Se uma brincadeira passa dos limites, deixa de ser brincadeira”, afirma Igor Seiji Ando Bomfim, 15 anos, que relata ter ajudado colegas que sofreram discriminação.
AUXÍLIO O orientador Bruno Sciuto foi um dos profissionais capacitados pelo colégio Soka para apoiar alunos 
Descontrole
Em um momento no qual o tema vem à tona mais uma vez após o bullying ter sido apontado pela polícia como um dos fatores que levaram um adolescente de 14 anos a atirar contra colegas em uma escola de Goiânia na sexta-feira 20, é fundamental que iniciativas como essas deixem de ser fatos isolados.Os colégios devem começar a colocar em prática ações determinadas pela lei contra os atos de perseguição, em vigor desde abril do ano passado. Uma delas é a produção de relatórios bimestrais com eventuais casos. “O bullying não é controlado pelas autoridades pela falta de dados, o que dificulta o diagnóstico da extensão do problema”, afirma advogada Ana Paula Siqueira Lazzareschi, especialista em direito digital. Outro aspecto importante é que, além do suporte à vítima, as instituições devem oferecer assistência ao agressor.A ocorrência ainda diária das intimidações mostra, no entanto, um descompasso muito grande entre o que faz a maioria das escolas e o que manda a legislação. Casos extremos, como o de Goiânia, evidenciam, porém, a urgência na adoção de medidas efetivas. “O bullying não pode ter sua gravidade subestimada e ser tratado como uma brincadeira de criança”, diz a advogada Ana Paula. “A cultura da vingança ainda é muito presente  na sociedade e é esse desejo que está por trás do comportamento do agressor”, diz.Terminando em tragédias ou não, casos de bullying têm efeitos indeléveis para a vítima, o agressor e toda a escola. “Ocasionam rachas nas salas de aula, colocam metade dos alunos contra o agressor e a outra parte a favor da vítima”, diz Ana Paula. Por isso, os programas de combate a práticas tão cruéis são fundamentais para reverter o aumento da intolerância em ambientes de aprendizado. Não de destruição.


Disposição para ajudar



Satisfação em ver os colegas enturmados é o que move as alunas Mariana Avelar e Isabela Cristante, do 9º e do 6º ano, respectivamente, do Bandeirantes, em São Paulo. Há um ano, elas foram escolhidas para fazer um treinamento de capacitação e saber como atuar em casos de bullying. Desde então, as estudantes percorrem os espaços da escola e sempre que percebem situações de isolamento ou provocação se aproximam da vítima ou dos que testemunharam a ação. “Saber que consegui ajudar é muito bom”, diz Isabela.
Por IstoÉ -Fabíola Perez
27.10.17 - 18h00
Imagens/Gabriel Reis
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terça-feira, 24 de outubro de 2017

Sem fiscalização, lei antibullying engatinha no País


SÃO PAULO - Há 18 meses em vigor no País, a lei antibullying, que prevê uma série de ações para identificar e combater esse tipo de violência nas escolas, ainda não virou realidade por problemas de fiscalização ou monitoramento dos casos e de práticas preventivas. Para especialistas, sem diagnóstico da situação, na prática, a obrigação recai apenas sobre os colégios, que podem ser até processados pelos casos. O debate sobre o tema veio novamente à tona após o bullying ter sido apontado pela polícia como um dos fatores que levaram um adolescente de 14 anos a atirar contra colegas em uma escola de Goiânia na última sexta. Dois alunos foram mortos e outros quatro ficaram feridos. A investigação ainda está em curso e não há conclusão sobre o peso do bullying como motivo do crime.
Desde fevereiro de 2016, está em vigor uma lei federal que determina ser dever de todas as escolas promover medidas de conscientização, prevenção, diagnóstico e combate ao bullying. As escolas devem capacitar todos os professores, fazer campanhas de educação, oferecer assistência psicológica e jurídica e instituir práticas de orientação também aos pais.
Um dos artigos da lei prevê que devem ser “produzidos e publicados relatórios bimestrais das ocorrências de intimidação sistemática (bullying) nos Estados e municípios para planejamento das ações”. Questionado sobre quantos Estados e municípios haviam produzido esses relatórios, o Ministério da Educação (MEC) disse que eles não precisam ser encaminhados à pasta por causa da autonomia das redes de ensino. 
Alessio Costa Lima, da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação, diz que os projetos antibullying nas escolas ainda são “pontuais”, já que não há ação sistematizada para todo o País. “O fato de a lei ser aprovada não significa que vai ser imediatamente cumprida. Muitas escolas ainda desconhecem.” Ele diz não ter informação sobre quantos municípios produziram os relatórios. 
Idilvan Alencar, do Conselho Nacional de Secretários de Educação, também diz não saber se algum Estado produziu os relatórios. “O bullying está fortemente presente nas escolas e, com crescimento de grupos que tentam impedir discussões sobre gênero, discriminação e intolerância em sala de aula, a tendência é de aumentar.” 
Diagnóstico

“Não há acompanhamento nacional, um programa que oriente escolas. O que há são boas ações pontuais, que nasceram do olhar de diretores e professores”, diz Luciene Tognetta, especialista em psicologia escolar pela Universidade Estadual Paulista (Unesp). 
Em nota, o MEC diz que a lei é “basicamente para Estados e municípios” e informou estar desenvolvendo plataforma para ações de educação em direitos humanos, em que haverá categoria específica para o tema.
Treinamento em escolas particulares
Em escolas tradicionais de São Paulo, o combate ao bullying tem se tornado cada vez mais comum. As estratégias vão desde o estímulo ao diálogo entre os alunos até a formação de grupos para treinamento sobre como identificar e lidar com as situações.
No Colégio Bandeirantes, na zona sul, por exemplo, a direção fez parceria com o Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Moral (Gepem), da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), para treinar professores e alunos. Uma das iniciativas foi a criação de equipes formada por estudantes de todos os anos do ensino fundamental, que passam a observar os colegas e oferecer ajuda. “Eles observam alunos que estão mais isolados no pátio, que talvez estejam sofrendo por alguma provocação”, explica a coordenadora de Convivência em Processo de Grupo (CPG) do Bandeirantes, Maria Estela Zanini.
“Fizemos um treinamento que durou dois dias, com várias situações hipotéticas e como deveríamos agir em cada uma delas”, diz a aluna Carolina Ferrer, de 14 anos. 

Já no Colégio Oswald de Andrade, na zona oeste, a estratégia é a de desenvolver, desde a educação infantil, a cultura de diálogo permanente. “Precisamos incutir o valor cultural de se discutir os problemas e questões do grupo”, diz o diretor-geral Harlei Florentino. 
`Por Estadão - Isabela Palhares e Luiz Fernando Toledo
24 Outubro 2017 | 03h00
Imagem: Daniel Teixeira/Estadão
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terça-feira, 17 de outubro de 2017

Facebook ajuda crianças a combater ciber bullying em escolas do Reino Unido


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LONDRES (Reuters) - O Facebook informou nesta segunda-feira que financiará jovens “embaixadores de segurança digital” em todas as escolas secundárias do Reino Unido para ajudar os estudantes a lidarem com o ciber bullying e outros perigos online.

A empresa norte-americana é parceira das instituições de caridade The Daiana Award e Childnet International para capacitar jovens a agirem como mentores em 4,5 mil escolas nos próximos dois anos, informou a rede social.

Antigone Davis, chefe de políticas de segurança global do Facebook, disse que a empresa já desenvolveu recursos de segurança na rede social, como ferramentas de denúncia online, e agora está assumindo esse compromisso fora da internet.

“Temos ouvido das crianças que, na verdade, três em cada quatro delas preferem falar com alguém da mesma idade sobre esse assunto, então dar aos jovens as habilidades que precisam para ser esse tipo de mentor é muito importante para nós”, disse ela.

Além de dar às crianças as ferramentas para lidar com o bullying nas redes sociais, o programa também abordará a proteção online e outros perigos. A iniciativa receberá 1 milhão de libras (1,33 milhão de dólares) de financiamento do Facebook.


Por Reuters
13/08/2017 
Imagem:pixabay
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segunda-feira, 16 de outubro de 2017

Abominável mundo novo



A cena me deixou terrificado. Há poucos dias, visitei uma escola paulistana de ensino fundamental, em um bairro de classe média da cidade. Cheguei à hora do intervalo e deparei-me com um quadro que parecia retirado de algum episódio de "Black Mirror", a série televisiva que explora os aspectos mais sinistros do impacto da tecnologia sobre o mundo contemporâneo.

Espalhados pelo pátio, recostados nas paredes, sentados ao chão, divididos em pequenos grupos, praticamente todos os alunos mantinham os olhos presos às telinhas dos respectivos celulares. Eram dezenas de crianças e pré-adolescentes. De ombros arqueados, quase nenhum olhava diretamente para o outro. Boa parte deles utilizava fones de ouvidos.Muitos movimentavam os polegares freneticamente, digitando algo nos minúsculos teclados virtuais, enquanto caminhavam às cegas, sem olhar para a frente. Outros, imóveis, nucas curvadas, retinas fixas nos aparelhinhos, mantinham o semblante vazio, uma expressão de ausência e torpor.Estavam fisicamente juntos, mas separados por uma barreira invisível. Naquelas mentes e corpos em formação, a criatividade, a energia e o fulgor tão típicos à idade pareciam tragados pela entropia de um assustador buraco negro. A imagem me provocou tamanho abalo que, nos dias posteriores, arrisquei-me a investigar um pouco mais o fenômeno.Tinha uma hipótese inicial, compartilhada, creio, por muitos. Apostei que iria encontrar apenas um cenário de hiperexposição das vaidades, uma hipertrofia dos egos, a espetacularização da banalidade cotidiana.Vasculhei a internet, busquei bibliografia especializada, analisei grupos de WhatsApp, percorri redes sociais, segui usuários, acompanhei hashtags, baixei aplicativos. Contudo, minha hipótese inicial mostrou-se insuficiente. O panorama, até onde pude avaliar, aparenta ser muito mais aterrador.Por minha condição de pai, conheço muitos pré-adolescentes e já havia constatado que a maioria deles se recusa a qualquer espécie de imersão interior ou mesmo ao exercício da contemplação do mundo. Numa viagem de automóvel, por exemplo, preferem distrair-se com tabletes e celulares a olhar pela janela, a mergulhar nos próprios pensamentos ou a simplesmente apreciar a paisagem.Parecem ter uma dificuldade de lidar com as pausas e silêncios necessários à autorreflexão e à construção da própria subjetividade. Some-se a isso o comportamento multitarefa, a excitação por reagir de imediato a estímulos das mais variadas procedências, o instantaneísmo incitado pelas redes, e tudo parece convergir para uma certa vulnerabilidade e, talvez, alguma espécie de vácuo emocional.O fato é que constatei a proliferação, em escala alucinada e preocupante, do número de adolescentes que compartilham entre si mensagens suicidas e sugestões de automutilação. Perfis do Instagram exibem imagens de jovens carregadas de morbidez. Em grupos de WhatsApp destinados a fãs de animes e literatura fantástica, amigos virtuais que se autointitulam "tios malvados" convidam os incautos a conversar por mensagens privadas.O cyberbullying é praticado abertamente, contando inclusive com a ajuda de aplicativos como o Sarahah ("franqueza", em árabe), um dos mais populares entre os jovens, destinado a enviar mensagens anônimas para qualquer pessoa, criticando aspectos de sua personalidade ou aparência. No linchamento cibernético do Sarahah, não há ferramentas disponíveis para o atingido se contrapor ao agressor.Outro aplicativo onipresente nos smartphones de adolescentes é o coreano SimiSimi, criado em 2002, mas que nos últimos meses voltou com tudo à moda. Trata-se de um chatterbot, ou seja, um programa baseado em inteligência artificial capaz de manter uma conversação em tempo real com o usuário. Nesse caso, por trás do personagem amarelinho e sorridente, o tal SimiSimi, esconde-se um interlocutor agressivo e boca suja.Baixei-o em meu smartphone para entender como funciona. Em menos de 15 minutos de interação, eu já estava sendo xingado com palavrões cabeludos e recebendo, da parte dele, propostas sexualmente explícitas. "Vou chupar você" e "Me bate, seu otário, me encha de prazer" foram algumas das frases mais publicáveis ditas pelo bonequinho.Enquanto isso, existe gente por aí querendo censurar exposições de arte. O verdadeiro perigo parece estar nas mãos de nossas crianças e adolescentes, livremente, acessíveis a um clique. Abominável mundo novo.


Por Folha de S. Paulo

15/10/2017  02h00
Imagem: Maíra Mendes/ Folhapress 
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quarta-feira, 11 de outubro de 2017

Governo britânico quer que Google e Facebook paguem para combater cyberbullying



Cobrança será voluntária, mas pode se tornar obrigatória em caso de negativa

Empresas de tecnologia serão convidadas a pagar por programas de combate aos riscos cibernéticos -




LONDRES — O governo britânico pretende dividir a conta de políticas públicas para o combate a riscos digitais com as companhias de internet. De acordo com um projeto que está em consulta pública, firmas como Google e Facebook deverão ser convidadas a pagar, de forma voluntária, por programas de segurança na rede, contra perigos como o cyberbullying, assédio on-line, pedofilia e a exposição de pornografia para menores de idade.
As medidas seriam voluntárias, e exigiriam a persuasão das gigantes da tecnologia para que parte de suas receitas fosse empregada no apoio a iniciativas de segurança. De acordo com o “Guardian”, se as companhias se negarem, o governo pode considerar uma abordagem legislativa que as obrigariam a participar, mas ainda não existem planos nesse sentido.
Em entrevista à rádio BBC 4, a secretária de Cultura, Karen Bradley, defendeu que a contribuição seja voluntária, após o Partido Conservador sugerir poderes legais para forçar a cobrança das empresas.
— Eu não descarto a legislação se for preciso, mas espero conseguir conversando com as empresas — disse Bradley. — Nós estamos concluindo a melhor forma de fazê-lo. Levar uma legislação no Parlamento não é a forma mais fácil.



MUDANÇA DE STATUS



Segundo a secretária, o caminho não legislativo é “mais rápido, efetivo e tem melhores resultados para todos”. Mas caso a opção seja o Parlamento, uma das possíveis medidas seria alterar o status das empresas, para torná-las editoras, em vez de plataformas, o que significaria uma maior regulação do conteúdo.
— Legalmente, elas são meros condutores, mas estamos analisando o seu papel e suas responsabilidades para ver qual deveria ser o status. Neste estágio elas não são legalmente publicadoras, mas estamos olhando essa questão — comentou Bradley.
O projeto também prevê a criação de um código de conduta nas redes sociais, de um relatório anual de transparência da segurança na internet e o apoio para que start-ups desenvolvam produtos seguros desde o início. Além disso, as aulas de educação sexual nas escolas devem passar a incluir conteúdos sobre segurança on-line.
Para Bradley, a internet é uma imensa força para o bem, mas “causou sofrimento inegável e pode ser um lugar especialmente danoso para as crianças e pessoas vulneráveis”:


— Comportamentos que são inaceitáveis na vida real são inaceitáveis na tela do computador. Nós precisamos de uma abordagem para a internet que proteja todos sem restringir o crescimento e a inovação da economia digital — pontuou.
Tom Watson, vice-líder do Partido Trabalhista, concorda que todos devem ajudar no combate a conteúdos abusivos nas redes, e apreciou o governo ter aceitado a proposta de aulas compulsórias de educação sexual incluindo conteúdos sobre a segurança on-line, mas pede mais detalhes sobre a ideia de cobrança das companhias.
— Este anúncio tem poucos detalhes. O governo precisa dizer mais sobre quem exatamente pagará por essa proposta, quanto irão pagar e como o dinheiro será gasto. E eles precisam explicar que informações de transparência serão pedidas para as companhias — criticou Watson.Leia mais: 



Por O Globo

11/10/2017 8:58
 Imagem - DAMIEN MEYER / AFP
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sexta-feira, 6 de outubro de 2017

Um em cada dez jovens acessou informações sobre suicídio na internet, diz pesquisa

Cyberbullying e acesso à publicidade por crianças e adolescentes também preocupam

Celular é principal meio de acesso à internet por crianças e adolescentes
RIO — Uma das maiores preocupações dos pais é sobre os riscos aos quais os filhos estão expostos na internet, e a pesquisa TIC Kids Online, divulgada nesta quinta-feira pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), mostra que os perigos são relevantes. Um em cada dez adolescentes entre 11 e 17 anos já teve contato com conteúdo sobre formas de cometer suicídio, mesmo percentual para materiais sobre uso de drogas. 13% acessaram conteúdo sobre formas de machucar a si mesmo, e 20% viram receitas para ficarem muito magros.
Os dados são referentes ao ano passado e mostram avanço em relação a 2015. A próxima edição do estudo deve revelar um crescimento ainda maior, já que o início deste ano foi marcado pela polêmica do desafio da “baleia azul”, junto com a repercussão do seriado “13 reasons why”. Sobre o cyberbullying, 41% dos pesquisados disseram já ter visto alguém ser discriminado na rede, sendo a cor ou raça (24%), a aparência física (16%) e a homossexualidade (13%) os principais fatores.
Por outro lado, a pesquisa também mostra que a segurança on-line das crianças e adolescentes é uma preocupação dos pais. 69% deles responderam que os filhos utilizam a rede com segurança, percentual que se mantém praticamente estável nos últimos anos.
As mídias tradicionais como televisão, rádio, jornais ou revistas (54%), destacam-se como fontes de informações sobre o uso seguro da internet, segundo a declaração dos pais, seguidas por familiares e amigos (52%) e por meio da própria criança ou adolescente (51%). Já as menções à escola (35%) ou ao governo e autoridades locais (26%) são menores.
— Esse resultado revela a necessidade de difusão e ampliação do debate sobre oportunidades e riscos associados ao uso da Internet por iniciativa de políticas públicas — comentou Alexandre Barbosa, gerente do Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br), órgão que executou a pesquisa.
O contato com a publicidade é outra preocupação crescente: 69% dos jovens entre 11 e 17 anos disseram ter tido contato com propaganda em sites de vídeos, percentual que era de apenas 30% em 2013, e 62% tiveram contato com publicidade em redes sociais. No caminho inverso, 48% dos adolescentes buscaram informações sobre marcas ou produtos na internet.
— Se, por um lado, as crianças e adolescentes estão cada vez mais conectadas, elas estão também cada vez mais expostas a conteúdos mercadológicos na rede — avaliou Barbosa. — Esse é um desafio que precisa ser tratado por pais, educadores e formuladores de políticas públicas, especialmente se levarmos em consideração que o reconhecimento do caráter comercial da publicidade na internet é mais complexo para o público infantil.
DISPARIDADES REGIONAIS E SOCIOECONÔMICAS
De acordo com a pesquisa, 82% das crianças e adolescentes entre 9 e 17 anos são usuários de internet, o que corresponde a 24,3 milhões de pessoas, mas as disparidades regionais e socioeconômicas permanecem. Enquanto em áreas urbanas 83% das crianças e adolescentes estão conectados, em áreas rurais o percentual é de apenas 65%. Na região Sudeste, 91% dos entrevistados disseram acessar a rede, enquanto no Norte a taxa é de 69%. Nas classes A e B, 98% dos jovens estão nas redes, contra percentual de 66% nas classes D e E.
O celular se consolidou como o principal meio de acesso, sendo usado por 91% das crianças e adolescentes. Em 2012, na primeira edição da pesquisa, esse percentual era de apenas 21%. Por outro lado, o computador vem perdendo espaço: apenas 7% disseram usar apenas o computador para navegar na rede.
— Enquanto crianças das classes A e B têm à disposição uma variedade de dispositivos para acesso à rede, outras têm um ecossistema de acesso mais restrito — apontou Barbosa.

Por O Globo - 
 06/10/2017 - 16h46
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quarta-feira, 4 de outubro de 2017

Cyberbullying, uma ameaça que pode minar a saúde mental das vítimas


Rodrigo sempre foi um menino alegre. Desde bem pequeno tinha um peso acima da média, mas isso nunca foi problema para ele, que jogava bola, corria e nadava tão bem quanto qualquer outro garoto da sua idade. Comunicativo e inteligente, estava sempre rodeado de amigos. Ele acaba de completar 14 anos, e de uns tempos para cá seus pais vinham notando que seu comportamento estava mudando. Vivia calado, instrospectivo, irritado. Nem nos momentos com a família era o mesmo menino de antes. Um dia, ao ir para a escola, esqueceu o celular em casa, e a mãe decidiu dar uma espiada, para ver se descobria o porquê do comportamento, já que Rodrigo não se abria mais com ela. Em uma das redes sociais que o menino usa, encontrou a resposta: Ele está sofrendo cyberbullying.
São vários os comentários maldosos dos outros meninos e meninas via internet: Fala, baleia; O gordo mais sem noção da escola; Você tenta ser simpático, porque sabe que com esta beleza toda nunca vai conseguir conquistar uma namorada, e coisas do tipo. Palavras duras, vindo de outros adolescentes que sentem prazer em menosprezar os outros. A mãe não conseguiu conter as lágrimas nem a raiva quando leu os posts. Como as pessoas podem ser tão ruins assim? Ninguém gosta de ser humilhado, pior ainda quando isso acontece publicamente, e torna-se terrível quando a vítima é um adolescente, pois nesta fase da vida tudo o que a pessoa mais quer é pertencer a um grupo e ser aceita pelos seus pares.
O caso de Rodrigo não é uma exceção. Quem navega pelas redes sociais e usa aplicativos de mensagem instantânea no celular sabem o quanto é comum encontrar comentários depreciativos, nos quais pessoas de diferentes idades expõem o outro em busca de destaque e aceitação. Em geral, estas postagens criticam alguma característica física, condição social ou comportamento da vítima. O alcance e a velocidade com que as publicações se propagam nas redes, capazes de reproduzir milhões de posts por segundo, potencializam o problema. No ambiente virtual, os xingamentos e as provocações são tormentos permanentes.
''Antes, o constrangimento do bullying ficava restrito aos momentos de convívio dentro da escola. Agora é o tempo todo'', aponta Lia Calegari da Cunha, advogada que atua em escritório especializado em direito digital e atende casos de cyberbullying. Lia faz um alerta: ''É uma violência como qualquer outra e deve ser combatida sempre que ocorrer, principalmente por estar ligada diretamente à saúde mental das vítimas, que, se não for protegida, pode sofrer sérios danos''. A advogada diz que os principais alertas de que uma criança ou jovem está sofrendo bullying, em qualquer uma de suas formas, são a passividade quanto às agressões sofridas, ter um círculo muito restrito de amizades, ter baixa autoestima e baixo rendimento escolar, apresentar medos e simular estar doente para não comparecer mais às aulas, além da insegurança e baixa sociabilidade.

Por Diário Catarinense - Viviane Bevilacqua
 29/09/2017 - 10h00
Imagem: Divulgação
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