terça-feira, 31 de janeiro de 2017

Site permite fazer "bullying" virtual com usuários da PSN



Um site chamado "Spam PSN" tem oferecido um serviço bastante controverso: por meio dele, é possível escolher um perfil da PlayStation Network para receber uma sequência de 25 mensagens de perfis fantasmas. O procedimento pode ser repetido a cada três minutos e por indefinidas vezes.

Isso tem sido usado para uma espécie de "bullying" virtual: um uso comum é enviar esse pacote de mensagens para algum desafeto ou adversário em partidas online. A situação é especialmente desagradável para jogadores que deixam as notificações de mensagens ativadas.

No próprio site, porém, há uma opção para quem não quiser ser incomodado por mensagens de spam provenientes do serviço: por meio de um pagamento de US$ 1, é possível colocar o seu nome de usuário na PSN em uma "lista negra", o que impossibilita que o nome seja alvo do ataque. Da mesma forma, é possível assinar uma versão "Pro" do serviço, que permite mandar quantas mensagens quiser sem o tempo de espera de três minutos.

Em entrevista ao site Kotaku, um dos criadores do site disse que a ideia era que o serviço fosse utilizado "para quem quisesse zoar seus amigos". O resultado, porém, foge bastante disso, uma vez que ele tem sido usado para ofensas de todo tipo.

Essa postura tóxica, segundo os criadores do site, tem sido combatida com o banimento constante de usuários. Não é difícil imaginar, porém, que isso é algo que está bem além do controle desses desenvolvedores, uma vez que o envio dos spams é feito de maneira anônima.

Além de desativar as notificações de mensagens, uma forma de evitar o problema é ativar a opção de privacidade que permite o recebimento de mensagens apenas se elas forem provenientes de sua lista de amigos.

Procurada pelo Kotaku, a Sony não se manifestou sobre o tema.

Do UOL, em São Paulo 30/01/201716h20

Fonte: https://jogos.uol.com.br/ultimas-noticias/2017/01/30/site-permite-fazer-bullying-virtual-com-usuarios-da-psn.htm

segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Selena Gomez produz série sobre "bullying" e suicídio

Chama-se "13 Reasons Why" e estreia-se a 31 de março na plataforma de "streaming" Netflix.



A atriz e cantora Selena Gomez, de 24 anos, saltou para o lado de lá das câmaras para contar, como produtora executiva, uma história sobre bullying e suicídio da adolescência em 13 Reasons Why, um original da Netflix com estreia agendada para 31 de março.

A trama relata a história de Clay Jensen (Dylan Minnette), que um dia, ao regressar a casa depois das aulas, encontra uma caixa com o seu nome. Dentro dessa caixa estão várias cassetes gravadas por Hannah Baker (Katherine Langford) - colega de escola e a sua paixão escondida -, que se suicidou duas semanas antes. Nos testemunhos que gravou nas cassetes, Hannah explica as treze razões pelas quais decidiu terminar com a sua vida.

O objetivo da narrativa é mostrar como o dia a dia na adolescência pode ser doloroso.

A série, com o título em português de Por Treze Razões, é baseada no bestseller de Jay Asher e um dos realizadores é Tom McCarthy, o mesmo de O Caso Spotlight, vencedor do Óscar de Melhor Filme em 2016.

McCarthy dirige os dois primeiros episódios, que terão participações de Kate Walsh, Brian d'Arcy James e Mark Pellegrino.


Fonte: http://www.dn.pt/media/interior/selena-gomez-produz-serie-sobre-bullying-e-suicidio-5631961.html

sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

A educação física e o bullying nas escolas


Ao final de 2016, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou um levantamento preocupante, com o crescimento de casos de bullying escolar no Brasil. A pesquisa mostrou que, em 2015, 46,6% dos 13 milhões de jovens entrevistados, entre 13 e 17 anos de escolas públicas e particulares de todas as regiões do país, disseram já ter sofrido algum tipo de bullying. Em 2012, a porcentagem era de 35,3%. E a aparência física estava entre os principais motivos.

A forma como hoje é tratada a aula de educação física nas escolas, competitiva e excludente, ajuda a rotular crianças e jovens que carecem de habilidade para o esporte, por exemplo. Isso faz com que esse jovem se afaste de vez das atividades físicas, criando um trauma pelos exercícios.

Esse bullying escolar praticado durante as atividades físicas envolve, principalmente, as crianças acima do peso e os mais tímidos, seja para executar os exercícios impostos pelo professor durante a aula, seja naquela divisão de equipes onde os menos habilidosos sempre são deixados por último.

Isso acontece por alguns fatores: a permissividade e até cultura de se apelidar ofensivamente em função da não aptidão física; a cultura de que em qualquer atividade física deve haver um melhor ou campeão, criando intensa competição; e a postura ausente de alguns professores, que se preocupam com a obediência às regras do jogo em detrimento à criação de um ambiente de desenvolvimento social, emocional e de respeito às individualidades.

Para frear o aumento de casos de bullying escolar, é preciso pensar a educação física de modo educacional, como acontece com as demais disciplinas. Ela deve fazer o estudante entender a importância e as diferentes formas de se movimentar, deve compreender como o corpo e o organismo funcionam e como o corpo pode ficar mais debilitado, suscetível a doenças e com formas que podem não agradar a eles mesmos na falta da prática de uma atividade física.

Levar ao aluno essa forma de ensino não exige grandes materiais. Basta ao professor planejar e utilizar o universo gigantesco de conceitos e ideias da área para explicar, dar base e conhecimento para o aluno praticar, entendendo o corpo e o exercício, de modo que se sinta permanentemente estimulado a levar uma vida ativa. Mudar essa cultura é um dos desafios para os profissionais de educação física do país.

O resultado dessa transformação será muito além da redução de casos de bullying escolar envolvendo a aparência física. Será a redução do número de sedentários, uma vez que, com início de vida esportiva positivo, o jovem seguirá motivado a inserir a prática da atividade física em sua rotina por toda a sua vida.

Fonte: https://vidasaudavel.gazetaesportiva.com/destaque-carrossel/a-educacao-fisica-e-o-bullying-nas-escolas/

Imagem: IStock

POR CRISTIANO PARENTE 10:01 26/01/17

quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

Pesquisadores mapeiam mortes por selfies no mundo e criam app para evitá-las



Pesquisadores americanos estão desenvolvendo um aplicativo que promete ajudar a reduzir o preocupante número de pessoas que morrem a cada ano tirando selfies.

O aplicativo, ainda em fase de testes, avisa quando as pessoas estão em situação em risco.

Em um estudo, os pesquisadores apontam que 15 pessoas morreram por causa de selfies em 2014, 39 em 2015 e 73 nos primeiros oito meses de 2016.

O estudo, conduzido pelo estudante de doutorado Hemank Lamba e por uma equipe de amigos da universidade de Carnegie Mellon em Pittsburgh, nos Estados Unidos, também mapeia os locais e causas das mortes, em vários lugares do mundo.

O que eles descobriram?



O primeiro registro (de uma fonte confiável) de alguém que morreu por causa de uma selfie é de março de 2014.

Desde então, Hemank e sua equipe de pesquisadores descobriram que foram registradas 127 mortes em razão de selfies em todo o mundo.

76 ocorreram na Índia, nove no Paquistão, oito nos Estados Unidos e seis na Rússia. O estudo não registrou nehuma morte por selfie no Brasil. 

A causa mais provável de morte é por queda de uma grande altura, com pessoas indo até penhascos e topos de prédios para tirar selfies e impressionar seguidores nas mídias sociais.



Quanto melhor a selfie, mais curtidas e seguidores você pode conseguir em mídias sociais como o Instagram. 

Assim, não é suficiente apenas tirar uma foto no espelho. 

Um russo chamado Kirill Oreshkin, seguido por 17.900 pessoas, é conhecido por suas fotos em cima de edifícios. 

Outros usuários do Instagram, como Drewsssik, também conquistaram um grande números de seguidores com imagens tiradas em cima de estruturas altas. Ele morreu em 2015 depois de cair de um edifício.Direito de imagem

Além do caso de Drewsssik, há o de uma menina russa de 12 anos, conhecida como Oksana B, que morreu em outubro de 2016 depois de subir em uma varanda para tirar uma selfie.
Quais são as causas de morte em diferentes partes do mundo?

Na Índia, há mais mortes por selfies envolvendo trens, o que Hemank e sua equipe disseram estar relacionado à "crença de que posar sobre ou perto dos trilhos com seu melhor amigo é considerado romântico e um sinal de uma interminável amizade".

Nos EUA e na Rússia, uma grande proporção das mortes ocorreu por causa do uso de armas, o que os pesquisadores acreditam estar ligado às leis mais liberais dos dois países quanto ao porte. 

O que pode ser feito sobre as mortes causadas por selfies?

Hemank e sua equipe esperam desenvolver um aplicativo que alertará os tiradores de selfie quando a busca pela melhor foto coloca sua vida em perigo.

Eles esperam que o aplicativo seja capaz de identificar quando alguém está tirando uma foto em um ponto alto, perto de trilhos de trem ou em outras situações perigosas e alertá-los sobre um possível risco.

Isso seria feito por meio de uma combinação de serviços de localização e reconhecimento de partes de imagem que sugerem um local inseguro.



A equipe testou 3000 selfies com um algoritmo desenvolvido por ela. Os pesquisadores afirmam que há uma taxa de sucesso de mais de 70% quando se trata de identificar uma foto arriscada.

Mas eles ainda estudam a melhor forma de fazer o alerta, para evitar que uma situação de perigo se tornar ainda mais perigosa.

18 novembro 2016

Fonte: http://www.bbc.com/portuguese/geral-38021924

terça-feira, 24 de janeiro de 2017

Volta às aulas: o que fazer quando seu filho sofre demais

Saiba como lidar com crianças que encaram o retorno à rotina escolar com medo e ansiedade.



Enquanto o retorno da rotina escolar é motivo de empolgação para muitas crianças, ele pode ser um pesadelo para outras. Reencontrar os amigos, conhecer a nova professora, encarar a rotina de regras e responsabilidades… Tudo vira motivo de ansiedade (e sofrimento). Mais ainda se a criança mudou de escola ou se está prestes a iniciar um novo segmento, como a passagem da educação infantil para o ensino fundamental: o medo do desconhecido e a expectativa do novo tiram até o sono. CRESCER falou com especialistas para tirar algumas das principais dúvidas dos pais sobre a dificuldade emocional na volta às aulas:

O que a volta às aulas representa para a criança?
Mudança, algo que nem sempre é bem recebido pelos pequenos. Afinal, significa que uma série de coisas precisará se alterar, como horários e rotina. É natural que essa transição seja um tanto conturbada e estressante, mas a volta às aulas pode ganhar outro significado, mais leve e divertido: é o momento de encontrar os amigos, fazer novos colegas, ganhar mais autonomia e aprender coisas novas.

Como identificar o sofrimento da criança?
A criança pode não manifestar a ansiedade verbalmente, pois, muitas vezes, não consegue expressar seus sentimentos com palavras. Portanto é preciso ficar atento aos sinais, como falta de sono, choro, irritação e resistência ao acordar para ir para a escola. Fazer drama em casa, mas ficar bem, faz parte da ansiedade natural, que está presente na fase de adaptação. Por isso, é fundamental que os pais estejam tranquilos. Eles também ficam ansiosos! Mas as crianças também percebem, o que pode exacerbar a tensão.

Como saber quando esse sofrimento passa do normal?
Algumas crianças são simplesmente mais apreensivas do que outras. Mas, quando nem mesmo a perspectiva de reencontrar amigos ou fazer algumas atividades prediletas, como educação física e artes, é capaz de animar seu filho e a angústia é excessiva, vale prestar mais atenção, principalmente se a resistência continuar mesmo depois da primeira semana na escola. Converse com a criança para entender se há algum motivo mais sério, como medo de sofrer bullying. Independentemente da idade, crianças que têm uma ansiedade além do normal, sofrem com pesadelos e mudam radicalmente a rotina de sono e o padrão de alimentação. As mais velhas podem se isolar ou ficar mais ríspidas, irritadas e até mesmo mais tristes. Nesse caso, vale conversar com a escola para entender se algo grave ocorreu no passado.

O que posso fazer para deixar meu filho mais tranquilo durante as férias?
Aos poucos, encoraje-o a dividir com você as expectativas sobre como será seu dia a dia e sobre como ele está se sentindo em relação ao retorno. Muitas vezes, a criança não quer uma solução para o seu sofrimento, ela quer simplesmente desabafar. Sempre que possível, aproveite situações que dão prazer ao seu filho e toque no assunto. Por exemplo, se vocês estão brincando de algo divertido, comente: “Não vejo a hora de você poder me ensinar tudo o que está aprendendo na escola com a sua professora”. Ou, no caminho de volta depois de um passeio legal, passe propositalmente perto da escola e comente: “Vai ser uma delícia fazer esse caminho todos os dias, quando eu estiver vindo buscar você aqui na escola". Assim, você começa a associar a escola a sentimentos positivos.

Na semana anterior, envolva a criança na compra e na organização do material, como arrumar a mochila, etiquetar os cadernos e separar o uniforme. Isso a motiva a enfrentar a nova fase e faz com que o preparo emocional aconteça naturalmente. É importante lembrar seu filho de que ele terá a oportunidade de rever os amigos e professores, fazer novas amizades e começar atividades extracurriculares, como futebol, natação, dança, teatro. Duas semanas antes, comece a rotina de noites mais longas de sono, mantendo um horário de acordar mais próximo do horário da escola, no caso de crianças que estudam na parte da manhã. Para aqueles que vão estudar na parte da tarde, também vale começar a preparar o hábito de acordar a tempo de brincar, fazer a tarefa, assistir ao desenho predito.

Ter um calendário à vista, que indique claramente a data em que as férias vão terminar, também pode ajudar. Dessa forma, você o mantém em contato com os deveres e responsabilidades. Outra ideia fofa e eficiente é combinar uma festa de "Volta às aulas” com as outras mães: uma reunião com os amigos mais próximos do seu filho para que eles troquem histórias sobre as férias. Ver que os colegas também estão receosos ajuda a diminuir a ansiedade.

Independentemente da idade, palavras positivas e de incentivo dos pais têm um forte impacto. Experimente estas: “Agora está difícil para você, mas logo você se acostuma e vai adorar”; “Seus amigos também devem estar se sentindo assim, é normal”; ou “O começo é assim mesmo. Mas essa é a sua escola e você precisa entrar para aprender. Logo volto para te buscar”.

É a primeira vez que o meu filho vai à escola. Como posso transmitir essa segurança para ele?
O melhor a fazer é começar a criar muitas expectativas positivas de aprendizagem e descobertas. Comentários como “Já pensou quantas músicas novas você vai me ensinar a cantar quando já estiver indo para a escola?” ou “Mal posso esperar para ver os trabalhinhos que você vai trazer da escola para eu ver”. Se possível, combine com familiares e amigos com filhos de as crianças brincarem cada dia em uma casa diferente. Assim, elas terão a chance de experimentar ficar sem a mãe na companhia de outras crianças.

O que deve ser feito na noite anterior ao retorno?
Comemorar! Prepare um jantar gostoso e aproveite para falar sobre o orgulho que sente por saber que ele vai fazer novos amigos, descobrir novas formas para aprender, desenvolver habilidades que o ajudarão a construir um mundo melhor. Lembre-os também dos bons momentos que tiveram no ano escolar anterior.

Por Andrezza Duarte - atualizada em 23/01/2017 10h35

Fontes: Vanessa Cristina Guilhermon Rodrigues, psicopedagoga da Clia Psicologia, Saúde & Educação; Roberta Bento, idealizadora do projeto Socorro, Meu Filho Não Estuda; e Sabrina Laqua, mestre em psicologia infantil.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

Top 10 do WhatsApp, bullying e trampolim das ‘famosinhas’ da rede


Vídeos que fazem ranking da atividade sexual de meninas são desafio para educadores nas escolas públicas.


Maria Carolina* tem 14 anos e se considera uma boa aluna. Exibe um boletim com todas as notas acima da média. Ela deseja ser médica, veterinária ou modelo, ainda não se decidiu. A maioria dos seus amigos na escola são garotos com a média de idade parecida. Até aí tudo normal não fosse pelo fato de Maria Carolina ter nada menos do que 5 mil amigos no Facebook. A maioria, segundo ela, são homens e mais velhos. A marca faz da garota é uma das “famosinhas do Facebook”, uma nova categoria que se estabeleceu e agita a convivência nas escolas públicas, se tornando mais um desafio para pais e educadores ao lidar com a intensa vida dos adolescentes nas redes sociais.

Maria Carolina admite que adiciona pessoas que não conhece pessoalmente, uma conduta recriminada por sua mãe, Maria Lúcia. Parte de sua “fama” cresceu depois que, com 12 anos, ela apareceu em um vídeo Top 10 da sua escola. Os Top 10 são uma espécie de ranking em vídeo, cuja trilha sonora é geralmente um funk com versos sexualizados e pornográficos. Enquanto a música toca, aparecem fotos de meninas, e algumas vezes também de garotos - a grande maioria apontado como gays - normalmente retiradas de seus perfis em redes sociais. As legendas de contexto sexual mesclam a exaltação, hipersexualização ou acusação de promiscuidade e humilhação.

“No primeiro [vídeo], eu não lembro muito, mas falaram que eu ‘arrastava as mina do Top 10’. E o segundo vídeo colocaram ‘Paga de santa, mas já comeram no shopping”, conta Maria Carolina. Márcia Fonseca*, 18 anos, também apareceu nos Top 10, mas é mais reticente e incômoda com o assunto. Nenhuma delas sabe indicar quem as incluiu no vídeo, mas ambas não suspeitam de meninos, mas de outras garotas com as quais tiveram problemas de convivência.

Maria Carolina recusa o título de "famosinha" e não se preocupou por ter aparecido no vídeo. “Eu sou uma moça de família e a pessoa que perdeu o tempo me difamando é um monstro de ser humano, eu estou com a minha consciência limpa”. Ela conta que teve apoio de sua família e de seu namorado. Já Márcia trancou a matrícula na faculdade de Pedagogia, na qual ingressou após sair da escola. Mas afirma que pretende voltar em breve. Ela recebeu o vídeo pelo WhatsApp, enviado por uma amiga, e diz não conhecer nenhuma das outras 9 meninas que figuram no ranking.

Segundo a pesquisadora do Laboratório de Estudos da Família, Relações de Gênero e Sexualidade da USP, Belinda Mandelbaun, são esperadas diferentes percepções sobre o fenômeno. Ela diz que a reação com a aparição no vídeo “depende da menina, da sua configuração familiar e psicológica”. Ela se preocupa com abordagens conservadoras nas famílias que podem acabar punindo de novo quem aparece.

Há pelo menos dois anos o tema dos vídeos, que geralmente são divulgados através do WhatsApp, por grupos, ou enviados um a um, ronda os adolescentes. Os Top 10 se popularizam no fim de 2014. De lá para cá, a prática se naturalizou e só tem crescido. Ao longo do ano, em algumas escolas surgem mais de um ranking. Também já existem seus correlatos: “as dez mais putas” da rua, bairro, cidade e festas. Os vídeos do tipo também estão no YouTube. No caso da maior plataforma de vídeos do mundo, os Top 10 são suspensos por conta dos direitos autorais das músicas utilizadas para acompanhar as imagens, mas quase nunca pela exposição de menores. A outra face do problema é o Top 10 ser usado como vingança entre meninas, uma espécie de moeda de troca virtual para resolver rivalidades e disputas. Há ainda outro aspecto, o da corrida por "likes", no qual ganha pontos a exposição e a autoexposição.

Em 2015, veículos de imprensa noticiaram esses rankings pois foi reportado que algumas garotas que entravam nas listas tentaram cometer suicídio. Entre as reportagens, estava uma feita pelo portal R7, que descrevia tentativas de suicídio e a atitude das famílias. Maria Carolina e Márcia Fonseca contam que receberam apoio de seus pais, mas nem sempre é assim. Há responsáveis pelas jovens que questionam sua conduta, já que "se ela apareceu, é porque aprontou", como afirmou ao EL PAÍS a mãe de uma adolescente de 12 anos que apareceu em um vídeo. A mulher pediu para não ser identificada e não permitiu que sua filha fosse entrevistada.
O tema nas escolas

As escolas se mostram ainda pouco preparadas para lidar com a questão. Alguns professores com quem a reportagem conversou afirmam desconhecer a prática, enquanto outros, mesmo conhecendo o conteúdo difamatório e degradante dos vídeos, escolhem não se envolver.

No plano de gestão da Escola Estadual Simon Bolívar, em Diadema, uma das ações a ser implantada é “desenvolver projetos que envolvam ética, cidadania, sexualidade, violência, qualidade de vida, meio ambiente, manifestações culturais, artísticas e desportivas”. Ainda assim, o tema dos Top 10 causou controvérsia entre alunos e a direção.

Beatriz Lelis, de 18 anos, conta que era uma das diretoras do grêmio na escola quando foi chamada para uma reunião com a diretora Nilza Sizuca Zerwas. A estudante sabia de maneira muito próxima da questão dos Top 10 - uma prima sua, de 12 anos, já havia aparecido em um desses vídeos. Segundo a aluna, durante a conversa, a diretora pediu para que ela falasse com as outras estudantes para que as meninas fossem vestidas de uma forma comportada para a escola. A diretora, diz a ex-gremista, afirmou que a culpa de as meninas aparecerem nos vídeos é da roupa que elas usam. Nilza Sizuca Zerwas nega ter dito isso.

A secretaria Estadual de Educação, diz que, após ser registrado o episódio dos Top 10 na escola, os pais foram chamados para uma reunião e a aluna identificada como a responsável pelo vídeo foi expulsa. Além disso, teria acontecido um debate sobre o posicionamento da mulher na sociedade. De novo, um choque de versões: os alunos alegam que o debate foi, na verdade, uma aula normal de filosofia.

Já Maria Carolina diz que na Escola Estadual Pedro Madóglio, onde ela estuda, também em Diadema, nenhum professor ou representante da escola jamais conversou com ela sobre o fenômeno do Top 10. Ela conta ainda que as meninas recebem suspensão se não vestidas adequadamente, mas nenhuma punição semelhante é dada a nenhum garoto.

A pesquisadora Mandelbaun, da USP, argumenta que o Estado deveria investir mais em políticas públicas de educação sexual para os adolescentes. “A escola deveria ser um espaço de reflexão para mudar essa mentalidade machista e patriarcal”, afirma. Para conter o fenômeno, ela diz, é hora de pensar em uma responsabilização legal das adolescentes e dos adolescentes que expõem colegas na Internet.

* O nome das entrevistas foi mudado, a pedido delas.

Fonte: http://brasil.elpais.com/brasil/2016/12/19/politica/1482171668_171974.html

sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

Bullying na escola: mesmo depois da criação da lei ele continua sendo um problema

Mesmo depois da criação da lei do combate ao bullying, a violência continua presente na escola.


Em novembro de 2015, foi instituída a lei do Programa de Combate à Intimidação Sistemática (13.185/15), mais conhecida como Lei do Bullying. A ideia era tomar ações que impedissem a disseminação da violência na escola, mas ela ainda não parece estar dando os resultados esperados.

De acordo com uma pesquisa feita pelo IBGE, o número de crianças que sofrem bullying na escola está aumentando. Em 2014, 35,3% dos estudantes afirmou que já sofreu algum tipo de intimidação ou humilhação pelos colegas. Em 2015, esse número aumentou para 46,6%.

Os números são especialmente preocupantes com adolescentes LGBT. Em pesquisa feita em seis países da América Latina, incluindo o Brasil, a Pesquisa Nacional sobre o Ambiente Educacional no Brasil 2016 descobriu que 73% dos estudantes LGBT brasileiros sofrem bullying, e que 36% já apanharam na escola. Mais de um terço desses jovens acha que a escola é ineficaz para evitar agressões.

Esse cenário deveria ter mudado com a aplicação da Lei do Bullying, no ano passado, mas de acordo com especialistas, “a implementação da lei é demorada e falta capacitação de educadores para lidar com o problema”.

O projeto definiu que docentes e equipes pedagógicas fossem equipados com as ferramentas necessárias para prevenir e solucionar casos de bullying, assim como pretende orientar pais e familiares para as formas de identificar vítimas e agressores.

Para o deputado Efraim Filho (DEM-PB), autor da redação final do projeto de lei, o combate ao bullying requer uma mudança cultural, e isso não ocorre de forma imediata.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

Facebook lança Portal dos pais para prevenir assédio e cyberbullying


Ser pai ou mãe é uma experiência complicada num mundo conectado, onde os passos dos filhos são difíceis de seguir e agir preventivamente nem sempre possível. Foi para os pais que não sabem bem como manter os seus filhos seguros na Internet, que o Facebook acaba de lançar o portal dos pais.

O Portal dos Pais do Facebook é para aqueles pais que não compreendem ainda totalmente a rede social e querem informações extras sobre como se protegerem e aos seus filhos nesta era de exposição máxima da privacidade.

O conjunto de ferramentas não é apenas para as vítimas, mas será igualmente direcionado aos pais que perceberem que os seus filhos são a parte activa em cyberbullying, ou para educadores que tiverem de lidar com situações de assédio e perseguição na sala de aula.

O Facebook, em virtude da sua popularidade, pode tornar-se um foco de cyberbullying e devassa da vida privada, pelo modo como adolescentes não compreendem a total proporção dos seus atos num local onde a exposição pode rapidamente tornar-se excessiva.

Recentemente, a rede social de Mark Zuckerberg lançou igualmente uma plataforma de prevenção do bullying, que aconselhamos vivamente a todos os que têm menores a seu cuidado. O artigo da nossa Patrícia Fonseca será, além do mais, extremamente útil para quem quiser conhecer melhor o novo centro de segurança do Facebook.

Por: Marco Trigo

Fonte: https://www.leak.pt/facebook-lanca-portal-dos-pais-prevenir-assedio-cyberbullying/

quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

Vítima de bullying, menino de 11 anos ganha dinheiro dando conselho a passageiros do metrô de Nova York

Ciro Ortiz cobra US$ 2 por cinco minutos de aconselhamento a pessoas com problemas profissionais, amorosos ou da vida em geral. “Acho que sou sábio o suficiente para isso”, declarou.



O nova-iorquino Ciro Ortiz tem apenas 11 anos, mas já se comporta como um experiente nas questões mais profundas da vida. Aluno da sexta série, ele já enfrentou, como muitas crianças da sua idade, momentos difíceis na escola. O garoto já foi diversas vezes vítima de bullying, mas encontrou neste problema uma maneira de ganhar dinheiro e ajudar outras pessoas.

Em entrevista ao site Upworth, Ciro disse que nenhuma agressão realmente a incomodou. “Eu não vou me esforçar para ser alguém que não sou”, declarou. Mas ao se deparar com essas situações, ele notou que poderia oferecer uma série de ajuda e conselhos encorajadores a quem precisasse.
Foi então que Ciro decidiu usar essa capacidade para auxiliar os estressados passageiros do metrô de Nova York. “Acho que sou sábio o suficiente para dar conselhos”, diz. E os pais concordam.

Por isso, aos domingos, ele arma a sua banquinha em uma estação do Brooklyn e oferece ali cinco minutos de aconselhamento por US$ 2 (R$ 6). E durante duas horas se põe a ouvir problemas profissionais, amorosos e da vida em geral.

Em um dia cheio, Ciro consegue fazer até US$ 50 (R$ 166), renda que é toda revertida a crianças de sua escola que não têm dinheiro para comprar um lanche. No primeiro dia, o menino confessa ter enfrentado um certo nervosismo – “achava que iriam rir de mim” -, mas a medida que seus clientes perceberam que ele “estava falando sério”, tudo aconteceu como estava planejado.

Surpreendentemente, os passageiros confiam ao garoto seus problemas reais. E uma das queixas mais comuns é a de pessoas infelizes em seu relacionamento ou preocupadas em não encontrar um amor. E seu melhor conselho é: “Quando você foi trazido ao mundo, veio de alguém que já te ama. Pense nisso”.

Enquanto seus colegas de escola não entendem o motivo da sua iniciativa, ele prefere a acreditar que todo mundo precisa de uma ajuda às vezes. “É impossível viver sem ajuda.”

21.12.2016 - 19H32 POR REDAÇÃO MARIE CLAIRE

Fonte: http://revistamarieclaire.globo.com/Noticias/noticia/2016/12/vitima-de-bullying-menino-de-11-anos-ganha-dinheiro-dando-conselho-passageiros-do-metro-de-nova-york.html

terça-feira, 17 de janeiro de 2017

Bullying infantil: como lidar com a situação e proteger os nossos filhos



Cada vez há mais crianças sofrendo de atos violentos, intencionais e repetidos nas escolas e parquinhos. Na maioria dos casos, calam-se e têm medo de contar em casa que estão a ser vítimas de bullying. Como é que um pai e uma mãe devem proceder?

Como reagem os pais ao serem confrontados com esta realidade? Quão perturbados ficam ao pensarem que os seus filhos podem estar a ser vítimas de violência contínua e intencional na escola? O ideal é estarem sempre atentos a todos os sinais e conversarem muito com as crianças. É importante que estas percebam que estão apoiadas e têm a quem recorrer, sem problemas, se forem maltratadas de alguma forma.

Para a ajudar a estar alerta a todos os sinais, criámos um pequeno guia sobre o bullying infantil.
O que é?

Segundo a APAV, “é uma forma de violência contínua que acontece entre colegas da mesma turma, da mesma escola ou entre pessoas que tenham alguma característica em comum (por exemplo: terem mais ou menos a mesma idade; estudarem no mesmo lugar)”.

Existem características específicas que chamam a atenção do agressor?

A forma de ser da vítima é uma das características mais “chamativas”. Se a criança for calada, mais sensível e frágil faz com que esteja mais exposta às agressões. Também o físico faz com que se possa tornar, infelizmente, “diferente” dos outros (ser mais baixa ou mais alta, magra ou gorda, usar óculos ou aparelho nos dentes). O fato do agressor não estar, muitas vezes, sozinho dá-lhe ainda mais força.

Que tipos de bullying existem?

Segundo a APAV, existem seis tipos de bullying:

Físico
  • Empurrar, amarrar ou prender;
  • Dar bofetadas, murros ou pontapés;
  • Cuspir, morder;
  • Roubar dinheiro ou outros bens pessoais;
  • Rasgar roupa e/ou estragar objetos.

Sexual
  • Insultar ou fazer comentários de natureza sexual;
  • Obrigar à prática de atos sexuais.

Verbal
  • Chamar nomes;
  • Gritar;
  • Gozar, fazer comentários negativos ou críticas humilhantes;
  • Ameaçar.

Social
  • Deixar de fora dos trabalhos de grupo e/ou dos jogos;
  • Inventar mentiras;
  • Espalhar rumores, boatos ou comentários negativos ou humilhantes.

Cyberbullying
  • Espalhar informação falsa, assediar/perseguir, incomodar e/ou insultar através de SMS, MMS, e-mail, websites, chats, redes sociais.

Homofóbico
  • Contar (ou ameaçar contar) a outras pessoas, contra a nossa vontade, segredos ou informações sobre a nossa sexualidade;
  • Discriminar com base na nossa identidade e expressão do género sexual (relacionado com a maneira como nos vestimos ou nos expressamos);
  • Fazer comentários negativos de cariz sexual e/ou gestos obscenos;
  • Praticar toques sexuais indesejados ou outros atos sexuais contra a nossa vontade;
  • Fazer comentários e/ou piadas homofóbicas;
  • Denegrir a nossa imagem junto de outras pessoas, inventando mentiras ou espalhando rumores/informação falsa;
  • Excluir propositadamente do nosso grupo de amigos e/ou forçar o afastamento dos amigos ou das pessoas que nos são mais próximas;
  • Deixar de fora das atividades, dos desportos/jogos e/ou das coisas que gostamos de fazer.

Como se sentem as crianças vítimas?

Em primeiro lugar ficam com um medo tremendo dos agressores. Têm medo de contar à família e sofrer represálias, acham que ninguém vai acreditar neles e que os amigos vão ignora-las. É muito normal nestes casos que as vítimas deixem de querer ir à escola (inventam que se sentem doentes, por exemplo), pioram as notas nas provas, perdem a vontade de fazer atividades ao ar livre e isolam-se em casa. A perda de apetite, suores, pesadelos frequentes, batimento cardíaco acelerado e enjoos são também sintomas que os pais devem estar alerta. 

Como é que os pais devem lidar com a situação?


  • Devem conhecer bem a escola e grupo de amigos dos filhos (também para dar espaço a estes miúdos a denunciar algo aos pais), por exemplo;
  • Ao mínimo sinal de desconforto da criança é muito importante saber o que a levou a tê-lo;
  • Baixou uma nota porque não percebeu bem a matéria? Ou será que anda ansiosa e com medo? Os pais devem falar com os professores as vezes que forem necessárias para saber como está a ser o rendimento da criança na escola;
  • O incentivo à partilha de problemas é muito importante. Se uma criança sentir que pode falar abertamente com os pais sobre tudo é meio caminho para partilhar com eles o que lhe está a acontecer;
  • Fazer uma espécie de diário dos acontecimentos que podem estar a criar o bullying é muito importante para futuras queixas.

BY SARA CHAVES
Fonte: http://saberviver.sapo.pt/bullying-como-lidar-situacao/

segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

Cyberbullying: agressão permanente


É uma violência feita à distância, mas como se se estivesse perto. Todos os dias, a todas as horas, com milhões assistindo.


O medo tinha hora marcada. Começava e terminava com o sinal da escola. Adriana sabia que era ali que a paralisia facial mais se notava. Durante dez anos aguentou sozinha os comentários de gozação feitos em todas as aulas, os empurrões e insultos durante os intervalos. Não lhe valeu o irmão, que assistia a tudo ali mesmo ao pé e que, também com medo, ficava em silêncio. De certa forma, ela fez o mesmo. Aguentou até ter coragem para contar à mãe o que se passava. A vida desta família já se encaminhava para rumar mais a sul, o bullying foi a gota d'água.

Adriana mudou de cidade, fez terapia, cresceu, recuperou das mazelas. Sentiu-se “curada”. Mas, dez anos depois da primeira vez em que as crianças da escola a rodearam para cuspir e gritar que ela era “feia, pequena, deficiente, um verme” que não merecia viver, os insultos voltaram. Agora, não existiam círculos no recreio, nem aparecia ninguém, de repente, para lhe dar uma palmada na cabeça, nem lhe roubavam a roupa depois do treino de educação física. Os insultos e ameaças chegavam através do Facebook e do celular, constantemente. Ali, sem ver a cara dos agressores, ela voltava a ser “feia, pequena, deficiente, um verme” que não merecia viver. Como se nunca tivesse saído da primeira escola onde o assédio começou.

Adriana, 15 anos, passava de vítima de bullying a vítima de cyberbullying. Ironia das ironias, porque denunciou o que sofreu na infância. Numa manhã nublada — de um dia do qual nunca se vai esquecer —, esperou que a família saísse de casa e sentou-se em frente ao computador. Pegou umas folhas em brancas e uma caneta de feltro, escreveu e ligou a câmara. Um sorriso. E, novamente em silêncio, começou a mostrar o texto escrito nas folhas brancas. “Olá, eu sou a Adriana :-) Tenho 15 anos, quase 16. Vim do Alentejo. Alguma vez você sentiu necessidade de contar um dos seus maiores segredos? Bem, eu sinto isso há algum tempo. Só preciso de alguns minutos da sua fantástica vida de adolescente. Desde os 5 anos que sou vítima de bullying. Parece simples, não é? Era gozada por ter a boca de lado, devido a uma paralisia facial. Diziam que eu era pequena, feia, deficiente, que nunca devia ter nascido. Imagina como me senti? Era tão fraca... Tão ingênua e inocente. No 7º ano tudo piorou, quando tive uma segunda paralisia e a minha cara ficou pior, pois é raro ter duas na minha idade. Sofri calada. Chegava a casa cheia de dores, com dores nos olhos. Sentia-me uma merda. Então, culpei-me a mim própria. Estava farta de sofrer, de ser fraca. Por isso, tentei acabar comigo. Morrer. Simplesmente morrer. Tenho marcas que por mais que tente não vão desaparecer, nem o fato de ter sofrido tanto. Pareço feliz, mas uma parte de mim ainda acha que não sou o suficiente para o mundo. Hoje estou a viver em Portimão. Já não sou vítima de bullying. Passaram 14 anos de sofrimento. Sozinha. Mesmo assim, há quem ainda tente deitar-me abaixo. Mas eu concretizei um sonho: ser forte.”

O pior de uma vida tão curta estava descrito sem voz, entre sorrisos e lágrimas, em três minutos de vídeo. E nele uma mensagem de esperança: “A vida ensina-te a ser forte da pior forma”, o título que Adriana deu ao filme. Nos primeiros dias recebeu vídeos de resposta, felicitações, viu adolescentes da mesma idade partilharem a sua história recorrendo também a folhas brancas e canetas de feltro. Iniciava-se, porém, um ciclo diferente do que estava à espera. Os agressores, que durante tantos anos a intimidaram e perseguiram, viram o vídeo e responderam com a agressividade e maldade a que a tinham habituado. Desta vez, a quilômetros de distância, mas como se estivessem muito perto. O que era para ser um momento de catarse, o de pôr um ponto final num período negro, tornava-se, afinal, no começo de outro.

O medo deixava de ter hora marcada. Em perfis falsos, diziam que a culpa era dela, que era calada e, por isso, não tinha amigos. Chamaram-lhe nomes, prometeram que não a iam deixar em paz. No anonimato e graças à desregulamentação da internet, Adriana sentia-se uma presa fácil. “Era como se fosse a continuação de tudo o que tinha passado. Mas não conseguia ver a pessoa cara a cara. Era humilhada perante um público maior. Pensava em quantas pessoas estavam vendo aquilo!” Post atrás de post. Todos os dias, a todas as horas. Tanta gente a ver e ninguém a podia proteger. Ninguém a podia levar dali para fora, porque a internet é omnipresente. Mesmo que saísse de todas as redes sociais, sabia que continuariam a fazer o mesmo. “Tanto o bullying como o cyberbullying são formas de assédio. O bullying é direto com a vítima. O cyberbullying é um assédio virtual que usa vários meios de comunicação (como o telemóvel e as redes sociais) de uma forma repetida. O bullying é físico, deixa mais visibilidade. O cyberbullying é uma forma continuada e repetida de vitimização. Deixa mais sequelas, dura mais tempo”, explica Daniel Cotrim, psicólogo da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV).

Adriana sentiu-se sentada no escuro, como se não conseguisse ter uma vida diferente. Maria Ana esteve três anos sentada nesse lugar escuro. Nunca foi uma aluna popular na escola, mas as regras rígidas do colégio católico em que estudava não davam espaço para ninguém correr o risco. Um dia, chegou a casa e abriu o e-mail. Lá dentro, um link encaminhava-a para um blogue que lhe era dedicado. Uma fotografia sua, tirada à revelia, com a cintura das calças caídas e mostrando um rabo, abria o blogue. Meia dúzia de posts apontavam-lhe os ‘defeitos’. Um vídeo mostrava vários alunos populares da turma a dizer como ela era chata e detestável. “Comecei a arranjar desculpas para faltar às aulas. Deixava de dormir para estar constantemente a ver se havia atualizações no blogue. Isolei-me, por não ter a certeza de quem tinha sido a ideia. Era como se estivessem todos envolvidos. E perdi a segurança.” Enquanto na escola algum adulto a podia ver e defender, não havia ninguém a quem se queixar na blogosfera.

“Muitas vezes, em casos de bullying, há grupos onde os jovens se sentem seguros. Por exemplo, o bullying pode ocorrer na sala de aulas, mas não na equipa de futebol da escola. Aqui não há fronteiras nem de tempo nem de espaço”, sublinha Ivone Patrão, docente e psicóloga da clínica do Instituto Universitário de Ciências Psicológicas, Sociais e da Vida (ISPA). Adriana sabe bem o que é ficar sozinha — com o cyberbullying, deixou de ter um lugar seguro. Ela denunciava uma conta de Facebook e dois segundos depois aparecia outra. Ela bloqueava um ‘amigo’ e esse mesmo, mas com outro nome, voltava a pedir-lhe amizade. Ela desamigava outros amigos, mas os vídeos ameaçadores e de gozo voltavam a aparecer no seu feed. E milhares — milhões mesmo? — vendo, compartilhando. E ela desconfiando, mas sem ter a certeza de quem estava por trás.

HUMILHAÇÃO UNIVERSAL

A visibilidade universal da internet torna-se a principal arma do agressor. Há mais gente vendo a humilhação, e ela pode acontecer onde quer que se esteja. Uma só pessoa pode criar várias contas para perseguir e insultar. “É uma questão de exposição, que ali ultrapassa os limites. A visibilidade faz com que outros problemas sejam acrescentados ao assédio, ao que seria o bullying, como o não querer ir às aulas, perturbações de sono, porque ficam até mais tarde na internet a ver o que os outros dizem sobre eles. Traz uma série de efeitos que são ampliados”, explica Luís Fernandes, psicólogo. Autor de “Cyberbullying, Um Guia para Pais e Educadores” e atualmente a preparar um plano nacional de ação contra este tipo de assédio e agressão, está habituado a visitar escolas e a falar com alunos e educadores. E não tem encontrado jovens surpreendidos com a possibilidade de ameaçarem e perseguirem na internet, através de SMS, com vídeos e imagens e sem terem de mostrar a cara. “Dez a 20% dos jovens consideram-se agressores ou vítimas. E um dos problemas é o sexting (envio de fotografias de pessoas nuas ou em poses íntimas).”

Com a internet instalaram-se novas palavras, como sextorsion, chantagem que consiste em exigir favores sexuais para não divulgar fotos íntimas. Os jovens crescem cada vez mais depressa. Têm conta de Facebook e telemóveis ainda antes de entrarem na adolescência. Da mesma forma, também começam a descobrir cedo o corpo e a sexualidade. E, como nativos digitais que são, trocam fotografias íntimas com naturalidade. Luísa, 44 anos, descobriu este ano as nudes (as tais fotografias íntimas). A filha Leonor, 11 anos, andava com um comportamento diferente. Embora ela não tivesse dado importância, percebeu que algo se passava. O filho mais velho comentou que andavam alguns colegas a gozar com Leonor no Facebook. Foi aí que decidiu entrar no mundo da adolescência em que Leonor se movimentava.

A conversa entre mãe e filha não começou de forma pacífica. Leonor não se queixava abertamente nem tinha vergonha de ter tirado as fotografias. A princípio, Luísa pensou que eram imagens provocantes. Quando entrou na conta de Facebook da filha, depois de lhe tirar as passwords de todas as redes sociais, não estava à espera nem do conteúdo nem da facilidade com que se espalhava. “Num grupo chamado chamado Leonor Má apareciam fotos e vídeos da Leonor. Os miúdos não têm consciência do que estão a fazer.” Aquele grupo era embaraçoso, mas o pior estava na caixa de mensagens. Um amigo do namorado de Leonor ameaçava publicar as imagens mais explícitas se Leonor não tivesse relações sexuais com ele. 

Em países como os EUA, onde surgiram as primeiras leis anticyberbullying, no Canadá e no Reino Unido há casos de jovens que se suicidaram por causa do cyberbullying. Quase todos tinham medo de que as suas fotografias e vídeos em poses íntimas fossem parar à internet. “Em Portugal também há casos de tentativas de suicídio. O problema não é só ser agredido, é toda a gente ver. Cada pessoa que vê pode enviar para 10 ou 15, que também vão ver... E isso vai contra a imagem que o jovem andou a construir”, diz Luís Fernandes.

NADA DESAPARECE DA INTERNET

O caso de Leonor é um exemplo típico das queixas de pais apresentadas na Polícia Judiciária (PJ). E, contado assim, parece um crime moderno que apenas existe porque há internet e redes sociais. Jorge Duque, ex-inspetor-chefe da área de criminalidade informática da PJ, anda quase 20 anos para trás no tempo para recordar um dos casos que mais o marcou. Uma menor, da área da Grande Lisboa, foi filmada a ter relações sexuais com o namorado sem ter conhecimento disso. O rapaz partilhou o vídeo com amigos no IRC (um antigo serviço de chat), e a comunidade da zona onde ela vivia ficou a saber. A jovem começou a faltar às aulas, e a família, envergonhada, mudou de localidade. Um ano mais tarde, alguém encontrou o vídeo e partilhou-o no Hi5, uma rede social prévia ao Facebook. “Os dados na internet não são privados. Não desaparecem. Temos situações bastante graves, como tentativas de suicídio”, alerta Jorge Duque.

Na maior parte das vezes, os pais descobrem o que se passa numa altura em que a situação parece incontrolável, já os menores passaram por humilhações e chantagens. Luís agiu assim que teve noção da gravidade do problema. Mal descobriu, tratou de guardar todas as conversas e foi à APAV pedir ajuda para apresentar queixa. Queria — e quer — que o caso seja julgado e os culpados penalizados, mas, mais do que isso, gostava que o assunto fosse debatido na escola de Leonor. “Depois de guardar as provas, fui à escola, quis falar com a presidente do Conselho Diretivo e com os pais do rapaz. Mas a escola não quis saber, disse que não se tinha passado dentro de portas e que, por isso, não tinha qualquer responsabilidade. Faz-me confusão que os pais não saibam, que não tenham noção do que se passa com os filhos, mas também que as escolas não se envolvam.”

Esta apatia escolar deve-se muito ao desconhecimento do que é o cyberbullying. Uma sondagem feita pela APAV, há cerca de três anos, mostrava que a maioria sabia que existia, porém não o conseguia identificar. Se para os pais o bullying é hoje um conceito compreendido, e para o qual estão mais despertos, o cyberbullying é-lhes ainda difícil de definir. Para os educadores, que são imigrantes digitais, não é linear perceber se as fotos e posts que os filhos publicam e que são publicados sobre eles são gozo ou brincadeira. E até os mais novos, numa fase da vida em que estão em formação, ficam na dúvida entre o que é ‘rir de mim’ ou ‘rir comigo’. “Há uma fronteira ténue entre o que é cyberbullying e o que é uma opinião. A linha é ténue, porque depende de fatores externos, da vida pessoal e da estabilidade de cada um. Mas há casos em que não há dúvidas: criar contas falsas nas redes sociais só para falar mal dos colegas é um deles”, diz Ivone Patrão.

A realidade é nova, mas as próprias redes sociais — as plataformas que permitem a disseminação do medo, do ódio e da agressão — já deram por ela. Primeiro foi o Instagram a aumentar a lista das palavras ofensivas, agora é o Twitter a expandir a opção “Silenciar”, para permitir que os utilizadores bloqueiem tweets que contenham determinadas palavras ou frases.

Os pais pedem ajuda no limite. Mas não basta dar um ralhete e cortar o acesso às redes sociais aos filhos. A diferença entre a maioria e Luísa é que ela tentou compreender o que fazia Leonor partilhar imagens daquelas. “Ela sempre foi muito vaidosa, sempre gostou muito de se fotografar. Aquelas foram mais umas fotografias, que são hoje muito comuns na escola”, conta. Em vez de entrar em pânico, e apesar do medo que também sentiu, encaminhou Leonor para uma psicóloga e ponderou mudar a filha de escola. Só que, se essa medida funciona numa situação de bullying, no cyberbullying não adianta. Este tipo de assédio é um “Big Brother”. Em 24 horas, esteja-se onde se estiver, pode ser-se vítima. Foi por isso que Adriana se sentiu mais no limite. Não havia por onde fugir.

Até há cinco anos, existia uma lista de cinco medidas para prevenir o cyberbullying. Uma delas dizia que o computador devia estar na sala, para ser usado em família. Outra dava dicas sobre os filtros que se deveriam usar para controlar o que os menores fazem online. Com os smartphones, as duas tornaram-se ultrapassadas. “Este é um mundo muito complexo. As famílias devem integrar as tecnologias nas suas vidas, de uma forma positiva, quando os filhos são pequenos, para eles poderem compreender”, frisa a psicóloga do ISPA. Já Jorge Duque alerta para a prematuridade com que pessoas ainda em estado imaturo se expõem a milhares. “Valerá a pena correr o risco de deixar os jovens terem uma conta numa rede social? A reprodução dos dados na internet funciona como bola de neve.” E é difícil encontrar a fonte da origem.

O anonimato da internet pode transformar-se num refúgio, tornando as vítimas de bullying em agressores de cyberbullying. É o reverso da moeda. Protegidos pela distância física e sem terem de mostrar o rosto, é comum que jovens que sejam perseguidos e ameaçados na escola usem as redes sociais para se vingarem. “Acontece muito, e assim continua o ciclo de violência. É por isso que é importante trabalhar com o agressor. Fazê-lo perceber que ele também pode ser visto como bom se estiver a fazer bem, trazê-lo para o outro lado”, sublinha Luís Fernandes. É que, se há sempre uma vítima e um agressor, isso não quer dizer que sejam bons ou maus. Enquanto a violência existir, o medo terá sempre hora marcada.

CAROLINA REIS (TEXTO), ALEX GOZBLAU (ILUSTRAÇÃO)

Artigo publicado na edição do EXPRESSO de 3 de dezembro de 2016

Fonte: http://expresso.sapo.pt/sociedade/2016-12-08-Cyberbullying-agressao-permanente