terça-feira, 24 de janeiro de 2017

Volta às aulas: o que fazer quando seu filho sofre demais

Saiba como lidar com crianças que encaram o retorno à rotina escolar com medo e ansiedade.



Enquanto o retorno da rotina escolar é motivo de empolgação para muitas crianças, ele pode ser um pesadelo para outras. Reencontrar os amigos, conhecer a nova professora, encarar a rotina de regras e responsabilidades… Tudo vira motivo de ansiedade (e sofrimento). Mais ainda se a criança mudou de escola ou se está prestes a iniciar um novo segmento, como a passagem da educação infantil para o ensino fundamental: o medo do desconhecido e a expectativa do novo tiram até o sono. CRESCER falou com especialistas para tirar algumas das principais dúvidas dos pais sobre a dificuldade emocional na volta às aulas:

O que a volta às aulas representa para a criança?
Mudança, algo que nem sempre é bem recebido pelos pequenos. Afinal, significa que uma série de coisas precisará se alterar, como horários e rotina. É natural que essa transição seja um tanto conturbada e estressante, mas a volta às aulas pode ganhar outro significado, mais leve e divertido: é o momento de encontrar os amigos, fazer novos colegas, ganhar mais autonomia e aprender coisas novas.

Como identificar o sofrimento da criança?
A criança pode não manifestar a ansiedade verbalmente, pois, muitas vezes, não consegue expressar seus sentimentos com palavras. Portanto é preciso ficar atento aos sinais, como falta de sono, choro, irritação e resistência ao acordar para ir para a escola. Fazer drama em casa, mas ficar bem, faz parte da ansiedade natural, que está presente na fase de adaptação. Por isso, é fundamental que os pais estejam tranquilos. Eles também ficam ansiosos! Mas as crianças também percebem, o que pode exacerbar a tensão.

Como saber quando esse sofrimento passa do normal?
Algumas crianças são simplesmente mais apreensivas do que outras. Mas, quando nem mesmo a perspectiva de reencontrar amigos ou fazer algumas atividades prediletas, como educação física e artes, é capaz de animar seu filho e a angústia é excessiva, vale prestar mais atenção, principalmente se a resistência continuar mesmo depois da primeira semana na escola. Converse com a criança para entender se há algum motivo mais sério, como medo de sofrer bullying. Independentemente da idade, crianças que têm uma ansiedade além do normal, sofrem com pesadelos e mudam radicalmente a rotina de sono e o padrão de alimentação. As mais velhas podem se isolar ou ficar mais ríspidas, irritadas e até mesmo mais tristes. Nesse caso, vale conversar com a escola para entender se algo grave ocorreu no passado.

O que posso fazer para deixar meu filho mais tranquilo durante as férias?
Aos poucos, encoraje-o a dividir com você as expectativas sobre como será seu dia a dia e sobre como ele está se sentindo em relação ao retorno. Muitas vezes, a criança não quer uma solução para o seu sofrimento, ela quer simplesmente desabafar. Sempre que possível, aproveite situações que dão prazer ao seu filho e toque no assunto. Por exemplo, se vocês estão brincando de algo divertido, comente: “Não vejo a hora de você poder me ensinar tudo o que está aprendendo na escola com a sua professora”. Ou, no caminho de volta depois de um passeio legal, passe propositalmente perto da escola e comente: “Vai ser uma delícia fazer esse caminho todos os dias, quando eu estiver vindo buscar você aqui na escola". Assim, você começa a associar a escola a sentimentos positivos.

Na semana anterior, envolva a criança na compra e na organização do material, como arrumar a mochila, etiquetar os cadernos e separar o uniforme. Isso a motiva a enfrentar a nova fase e faz com que o preparo emocional aconteça naturalmente. É importante lembrar seu filho de que ele terá a oportunidade de rever os amigos e professores, fazer novas amizades e começar atividades extracurriculares, como futebol, natação, dança, teatro. Duas semanas antes, comece a rotina de noites mais longas de sono, mantendo um horário de acordar mais próximo do horário da escola, no caso de crianças que estudam na parte da manhã. Para aqueles que vão estudar na parte da tarde, também vale começar a preparar o hábito de acordar a tempo de brincar, fazer a tarefa, assistir ao desenho predito.

Ter um calendário à vista, que indique claramente a data em que as férias vão terminar, também pode ajudar. Dessa forma, você o mantém em contato com os deveres e responsabilidades. Outra ideia fofa e eficiente é combinar uma festa de "Volta às aulas” com as outras mães: uma reunião com os amigos mais próximos do seu filho para que eles troquem histórias sobre as férias. Ver que os colegas também estão receosos ajuda a diminuir a ansiedade.

Independentemente da idade, palavras positivas e de incentivo dos pais têm um forte impacto. Experimente estas: “Agora está difícil para você, mas logo você se acostuma e vai adorar”; “Seus amigos também devem estar se sentindo assim, é normal”; ou “O começo é assim mesmo. Mas essa é a sua escola e você precisa entrar para aprender. Logo volto para te buscar”.

É a primeira vez que o meu filho vai à escola. Como posso transmitir essa segurança para ele?
O melhor a fazer é começar a criar muitas expectativas positivas de aprendizagem e descobertas. Comentários como “Já pensou quantas músicas novas você vai me ensinar a cantar quando já estiver indo para a escola?” ou “Mal posso esperar para ver os trabalhinhos que você vai trazer da escola para eu ver”. Se possível, combine com familiares e amigos com filhos de as crianças brincarem cada dia em uma casa diferente. Assim, elas terão a chance de experimentar ficar sem a mãe na companhia de outras crianças.

O que deve ser feito na noite anterior ao retorno?
Comemorar! Prepare um jantar gostoso e aproveite para falar sobre o orgulho que sente por saber que ele vai fazer novos amigos, descobrir novas formas para aprender, desenvolver habilidades que o ajudarão a construir um mundo melhor. Lembre-os também dos bons momentos que tiveram no ano escolar anterior.

Por Andrezza Duarte - atualizada em 23/01/2017 10h35

Fontes: Vanessa Cristina Guilhermon Rodrigues, psicopedagoga da Clia Psicologia, Saúde & Educação; Roberta Bento, idealizadora do projeto Socorro, Meu Filho Não Estuda; e Sabrina Laqua, mestre em psicologia infantil.

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