quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Milhões de imagens retiradas do Facebook são encontradas em sites pedófilos

Imagens inocentes são partilhadas em páginas de pedófilos com comentários sexualmente explícitos e perturbadores.



Uma foto na praia com os pais, um registo da primeira festa de aniversário com primos e irmãos a celebrar, um vídeo de uma tarde de lazer no parque infantil. Imagens inocentes como estas são partilhadas por vários milhares de pais nas redes sociais ou em blogues. Recebem curtidas e algumas vezes acabam sendo compartilhadas por familiares e amigos. São vistas por várias pessoas e facilmente passam pelos olhos de pedófilos. Um relatório de uma instituição australiana concluiu que dezenas de milhões de fotografias publicadas em páginas como o Facebook ou Instagram foram encontradas em sites pedófilos.

A inocência da fotografia da criança mantém-se mas os comentários que a acompanham quando são publicadas nestes sites são fortemente sexuais e perturbadores. Toby Dagg, investigador do Children's eSafety Commissioner, intituição asutraliana que se dedica à observação da segurança dos menores online, atira um número imponente para mostrar a gravidade desta realidade.

Num dos sites de partilha de material pedófilo detectado pelas autoridades foram encontradas 45 milhões de imagens e que “cerca de metade desse material parecia ter como fonte direta uma rede social”. Algumas das fotografias encontradas estavam armazenadas em pastas com títulos como os amigos do Instagram da minha filha, crianças na praia ou ginastas por exemplo.

Ao Sydney Morning Herald, o comissário da instituição, Alastair MacGibbon, explicou que “muitos utilizadores identificam claramente que obtiveram os conteúdos através de contas em redes sociais”. “As imagens são quase na maioria acompanhadas por comentários muito explícitos e perturbadores”, acrescentou o responsável, sublinhando que a inocência de uma imagem é completamente distorcida pelos predadores sexuais infantis.

Alastair MacGibbon dá como exemplo um site descoberto há dois anos, que alojava 100 fotografias. Entre estas havia imagens de crianças em férias, fazendo os trabalhos de casa ou abrindo os presentes de Natal, fotografias que tinham sido catalogadas pelos próprios pais com a descrição do que os seus filhos faziam e publicadas de forma inocente nas redes sociais ou em blogues. Segundo o comissário, cerca de dez dias após o site ter ficado ativo, as fotografias tinham sido vistas 1,7 milhões de vezes e comentadas com frases sexualmente explícitas.

“Quando publicamos qualquer coisa on-line, não importa onde seja, perdemos o controlo sobre ela. Pais que partilham muito são uma peocupação porque não têm qualquer ideia sobre onde essas imagens vão parar e muitos pais não bloqueiam as suas contas da mesma forma que os jovens fazem”. A observação é da especialista em cibersegurança Susan McLean, que ao Sydney Morning Herald afirmou que os pais são muitas vezes menos conhecedores dos perigos on-line do que os seus filhos.

Susan McLean deixou o alerta: "Se é um utilizador voraz das redes socias. Se vive a sua vida vorazmente através dos seus filhos on-line e usa sites que compartilham fotos e hashtags, tem que compreender que essa foto vale alguma coisa para alguém e pode ser para um propósito que não vai gostar."

Recentemente, o Tribunal da Relação de Évora centrou uma decisão na questão da insegurança e privacidade on-line de uma menor, cuja custódia estava a ser disputada pelos pais. O tribunal impôs que os pais da criança de 12 anos não divulgassem “fotografias ou informações que permitam identificar a filha nas redes sociais”.

Além de a Relação sublinhar que “os filhos não são coisas ou objetos pertencentes aos pais e de que estes podem dispor a seu belo prazer” e que os "pais devem proteger os filhos" e "têm o dever de garantir e respeitar os seus direitos”, alertou para os perigos da exposição de menores em redes sociais representados por “muitos predadores sexuais e pedófilos”. 

“O exponencial crescimento das redes sociais nos últimos anos e a partilha de informação pessoal aí disponibilizada” permite que os que “desejam explorar sexualmente as crianças recolham grandes quantidades de informação disponível e seleccionem os seus alvos para realização de crimes”, conclui a Relação no acórdão de Junho deste ano.

O alerta para os perigos on-line da partilha de fotografias que identifiquem menores e os coloquem numa situação de fragilidade perante estranhos foi alvo de uma campanha lançada em Agosto pela PSP. "A melhor forma de o proteger é evitar que apareça aqui para sempre. Não publique rostos de crianças, não mencione nomes e locais, não arrisque aqui: a decisão é sua", apelou a polícia no âmbito da iniciativa.

Questionando se “será mesmo necessário publicar fotos com os rostos das suas crianças de forma ostensiva”, a PSP apelou ao “bom senso e ao conhecimento que deve prevalecer na hora de publicar uma foto”. “A escolha é sua: sugerimos apenas que não o faça de forma ostensiva e que verifique bem as suas definições de segurança e privacidade”.

Por: CLÁUDIA BANCALEIRO  01/10/2015 - 12:28

Fonte: http://www.publico.pt/tecnologia/noticia/milhoes-de-imagens-retiradas-de-redes-sociais-sao-encontradas-em-sites-pedofilos-1709723

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