Amanda Rodrigues, 19 anos, morreu no sábado (28), no Hospital Dr. Beda, em Campos dos Goytacazes (RJ), devido a uma embolia pulmonar, uma complicação após ter se submetido a uma cirurgia bariátrica, na mesma instituição médica, em 17 de janeiro. A história de bullying que Amanda sofreu por ser obesa, desde a infância --e o desfecho trágico--, foi narrado pela irmã dela, Mayara Rodrigues, no Facebook. Até o meio-dia desta quarta-feira (1º), o post tinha 105 mil reações e 32 mil compartilhamentos.
"Amanda começou a sofrer preconceito a partir dos sete anos. As crianças da sala dela não aceitavam a minha irmã porque ela era gordinha. Amanda não podia sentar na mesma mesa das meninas na hora do lanche, não podia ser do mesmo grupo nas brincadeiras, na hora do parquinho e da educação física, e muito menos conviver junto na sala de aula. Amanda foi uma criança excluída pelas meninas. E os meninos? Ah, os meninos batiam nela, por diversas vezes, Amanda chegou em casa machucada, espancada, com as perninhas roxas”, escreveu Mayara, no início do seu relato.
No desabafo, Mayara contou que a cirurgia era a esperança de Amanda vir a ter uma vida normal. “Vou ficar bonita, as pessoas vão gostar de mim. Esse sofrimento vai acabar, irmã. Vou vestir 38. Ela me falava tantas coisas.”
Mayara falou que, após a operação, já no quarto, Amanda se queixou de dor na perna. Segundo ela, a mãe das duas avisou os enfermeiros sobre a queixa e disse ao médico responsável pela operação, Gustavo Cunha, que Amanda tinha histórico de trombose. De acordo com o relato, o especialista teria prescrito doses de anticoagulante.
Amanda teve alta, mas, dez dias depois da cirurgia, foi levada às pressas ao setor de emergência do Dr. Beda com fortes dores na barriga. "A minha mãe saiu gritando socorro pelo hospital. Levaram a minha irmã para a UTI. A minha irmã teve embolia pulmonar, dentro do hospital, no socorro, e ninguém descobriu. O médico sabendo do histórico da minha irmã nem desconfiou da trombose”, afirmou Mayara em outro trecho de seu post no Facebook.
“Foram seguidos todos os protocolos de atendimento da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica. A Amanda passou por todas as etapas do pré-operatório, com exames de laboratório e imagem, e avaliações de cardiologista, endocrinologista, nutricionista e psicólogo. Todos os profissionais a liberaram para a operação”, afirmou o cirurgião Gustavo Cunha, em entrevista ao UOL, por telefone. Cunha é membro associado da SBCBM ((Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica).
O médico ainda disse que a embolia pulmonar é uma complicação que pode ocorrer em qualquer procedimento cirúrgico, não apenas na bariátrica. “Infelizmente, é uma fatalidade a que todos estamos sujeitos”, falou o médico. O índice de mortalidade da cirurgia gira em torno de 0,5% a 1%, segundo a SBCBM
Segundo ele, Amanda teve uma trombose que deslocou um coágulo para o pulmão causando a embolia, que, no caso dela, foi fatal. “Não havia indícios clínicos de trombose. Ela não tinha, por exemplo, veias de grossos calibres. Eu me solidarizo com a dor da família, mas prestei todo o atendimento necessário.”
Complicação temida
De acordo com a endocrinologista Maria Edna de Melo, presidente da Abeso (Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica), o tromboembolismo pulmonar –problema que aconteceu com Amanda Rodrigues-- é uma das complicações mais temidas de vários procedimentos cirúrgicos, inclusive da cirurgia bariátrica.
“Felizmente não é muito comum, embora a obesidade seja um fator de risco para essa complicação. Pacientes com histórico pessoal ou familiar de trombose devem receber cuidados mais intensivos no pré e no pós-operatório, além de uma avaliação prévia de risco e benefício da cirurgia”, diz Maria Edna.
A endocrinologista fala que é possível que pacientes sem nenhum histórico venham a ter como primeira manifestação de uma trombofilia de causa genética (como a deficiência do fator V de Leiden) o tromboembolismo pulmonar, podendo ser fatal ou não. “A pesquisa genética dessas doenças não são realizadas de rotina, uma vez que são raras, mas devem ser feitas sempre em pacientes com história familiar ou algum evento trombótico”, declara a presidente da Abeso.
Por Adriana Nogueira | Do UOL