segunda-feira, 20 de julho de 2015

Uso excessivo de tecnologia pode afetar saúde de crianças


Thayanne Magalhães / Tribuna Independente 18 Março de 2015 - 10:49

“Essa é a geração das crianças robotizadas”, opina a psicoterapeuta Aparecida Oliveira, que chama de “filhos da hipermodernidade” os pequenos que passam mais tempo mexendo em seus aparelhos eletrônicos do que gastando energia com brincadeiras mais saudáveis.

“Hoje as crianças estão muito ligadas a brinquedos eletrônicos e acabam perdendo o melhor da infância. Esses jogos acabam causando a robotização dessas crianças, que ficam muito tempo paradas. Esse comportamento também tem influenciado no aumento de problemas de saúde como diabetes, hipertensão e obesidade. As crianças têm que correr e brincar”, explica a psicoterapeuta.

Aparecida afirma ainda que para muitos pais, esse fator tem sido cômodo, já que os adultos não estão mais encontrando tempo para brincar com seus filhos.

“A troca de amor e carinho da família está sendo trocada por um ser inanimado, sem vida. Isso pode causar transtornos de personalidade. A criança pode se tornar antissocial e deixar de conversar ou interagir com outras pessoas porque isso se torna algo chato. É mais fácil digitar no WhatsApp ou ter amigos no Facebook”.

Para a psicoterapeuta, os pais devem começar logo a se preocupar com o futuro dessa nova geração.

“A tecnologia é maravilhosa, facilitou muito a vida das pessoas, mas é preciso usar de forma saudável. As bolas, a bicicleta, as bonecas e os carrinhos estão sendo totalmente substituídos por jogos eletrônicos e as crianças têm preferido os amigos virtuais. Esse é o perigo de toda essa tecnologia. Não tem como proibir, pois essas crianças nasceram numa era digital, mas tudo tem que ter limite. É preciso que os pais observem como as crianças estão usando esses aparelhos, o que acessam na internet e quanto tempo demoram”.

TRANSTORNOS

A psicoterapeuta se diz preocupada com algumas crianças e adolescentes que já apresentam dificuldades para interpretar expressões faciais, que mesmo sem estar com um aparelho eletrônico, gesticula como se estivesse usando o celular, por exemplo, e têm dificuldade para prestar atenção e memorizar.

“Mesmo estando fora do mundo virtual, essas crianças acabam trazendo os hábitos para o mundo real. Hoje em dia já existem até clínicas para pessoas com transtornos psiquiátricos pelo ‘vício digital’ e os pais precisam ficar atentos às crianças mais tímidas e introvertidas, porque são pessoas com essas características que têm maior probabilidade de ficar dependente das novas tecnologias”, alerta.

Outro aspecto preocupante, segundo Aparecida, é a falta de leitura. A psicoterapeuta explica que é importante que os pais agucem a imaginação e a criatividade das crianças.

“Os pais precisam incentivar os filhos a lerem livros, precisam ler historinhas infantis e criar o hábito. Essa dependência tecnológica tem feito muitas crianças escreverem errado e inclusive não saber usar as palavras. Outro dia vi um menino pedindo um chocolate numa cantina e ele não sabia falar o que estava escrito na embalagem. Ele só repetis que queria aquela ‘coisa’. As crianças precisam exercitar a mente, pesquisar em livros quando for fazer um trabalho do colégio, pensar mais”.

‘Modernidade mudou estrutura familiar’

A psicoterapeuta Aparecida Oliveira explica que toda essa modernidade tem mudado o modelo de família dos anos 80.

“Os pais sentavam na mesa com os filhos e conversavam, perguntavam como tinha sido o dia na escola. A família tem ficado cada vez mais distante e as refeições se resumem em pratos esquentados no micro-ondas e cada um na sua televisão em seu quarto”.

Segundo Aparecida, essa mudança acarreta na falta de afetividade.

“Os pais de hoje em dia acham que vão compensar a ausência comprando brinquedos, mas o que a criança precisa é que o pai olhe para ela e veja do que ela precisa, que é da presença, que ele participe da vida dela, interaja, leia junto uma historinha, construa um castelo na areia da praia. É preciso um entendimento melhor de valores e criança precisa de carinho e não do brinquedo mais caro, que vai ser só mais um para acumular”.

Aparecida Oliveira afirma que a estrutura familiar é a base de tudo.

“É a partir de uma boa relação com os pais, de troca de amor e participação na vida das crianças, que elas se preparam para enfrentar o mundo”.

Alguns jogos podem estimular habilidades

Psicóloga e mãe de uma menina de 6 anos, Larissa Cabús acredita que os pais devem dosar as horas para crianças usarem os aparelhos eletrônicos.

“Existem jogos que são bons estimulantes para as crianças. Isso é comprovado. Essas crianças vivem uma era moderna e esses aparelhos estimulam suas habilidades motoras ou tecnológicas mesmo, raciocínio rápido. O problema é expor demais a criança e isso lhe causar déficit de atenção”, opina a psicóloga.

Para Larissa, um dos grandes problemas está na “guerra de egos dos pais”.

“Quando os pais querem dar estímulos demais para mostrar que seus filhos são mais espertos que as outras crianças, isso acaba prejudicando e não ajudando em nada. Alguns pais querem mostrar ‘as habilidades’ dos seus filhos aos outros de forma não espontânea ao invés de permitir que a criança se desenvolva naturalmente”, critica Larissa. 

Em relação ao impacto social que a criança pode sofrer com o excesso de uso de aparelhos eletrônicos, Larissa destaca o atraso no desenvolvimento físico.

“Essa criança certamente será a menor da sala, a nerd, e possivelmente sofrerá bullying. A tecnologia tem que ser usada como aliada no desenvolvimento e não como algo que vá prejudicar o desenvolvimento. Com a minha filha, por exemplo, eu uso a internet para tirar suas dúvidas quando ela me pergunta de onde vem as aranhas ou porquê os gatos caçam os ratos. Mostro vídeos e conversamos sobre o assunto”.

A psicóloga conta ainda que estimula a criatividade da filha com atividades que não estão relacionadas aos brinquedos eletrônicos.

“Atualmente ela tem mostrado interesse em artes e pintura e nós estudamos juntas sobre o assunto. O colégio também ajuda muito. Debatemos sobre um pintor e depois ela solta a imaginação e vai pintar, tudo por vontade própria”, relata.

“Na minha opinião, qualquer estímulo exagerado causa males. Um exemplo disso é um pai ou mãe forçar a criança a ler antes da hora. Isso pode lhe causar repúdio por livros por se frustrar ao não atingir a expectativa dos pais”, concluiu.

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