quinta-feira, 9 de junho de 2016

Como o cérebro dos adolescentes reage às redes sociais

Podem dizer o que for, mas não há como negar que a vida digital e, principalmente, o acesso frequente às redes sociais (como o Facebook e Instagram, por exemplo) exerce uma poderosa influência sobre a saúde mental de todos, sobretudo no que diz respeito aos adolescentes.


Data: 08/06/2016

Pesquisadores da Universidade da Califórnia, Los Angeles, tendo esta preocupação em mente, realizaram um estudo para determinar o que ocorre com os circuitos cerebrais dos jovens quando publicam conteúdos nas redes sociais.

Assim, ao tomar por base o tempo gasto pelos adolescentes nessas plataformas, que podem variar de oito a 18 horas por dia – mais do que o tempo destinado, inclusive, ao sono -, este hábito pode vir a influenciar o cérebro dos jovens, ainda em processo de desenvolvimento.

Cerca de 32 adolescentes, com idades entre os 13 e 18, foram informados de que estariam a navegar numa pequena rede social, semelhante ao Instagram.

Desta forma, os investigadores apresentaram a cada um dos participantes um total de 148 fotografias, incluindo 40 fotos que cada jovem havia selecionado, enquanto que, simultaneamente, era avaliada a actividade cerebral individual através da ressonância magnética funcional.

Importante dizer que junto a cada foto também era exibido o número de “likes” que cada uma delas havia recebido de outros participantes, mas que, na verdade, era falso, pois havia sido manipulado de forma positiva pelos pesquisadores a indicar que haviam sido bem aceites pelos demais.

O resultado mostrou que quando os jovens viam as suas próprias fotos com um grande número de “likes”, o núcleo accumbens – que faz parte do circuito de recompensa do cérebro -, era fortemente activado, isto é, ao perceberem maiores níveis de aprovação social, o cérebro reagia de maneira semelhante a quando se come chocolate ou se ganha dinheiro, por exemplo.

Na sequência, os pesquisadores perguntavam aos adolescentes quais fotos eles haviam “mais gostado”. E, adivinhe quais foram as escolhidas? Exatamente aquelas que receberam maior aceitação social – mostrando claramente a tendência de influência do grupo sobre o comportamento individual.

Um dado relevante: fotos que haviam sido publicadas por outros, mas que exibiam algum tipo de comportamentos de risco, se bem avaliadas pelos demais (isto é, também indicadas com mais “likes”), surpreendentemente eram também enaltecidas por cada um, claramente demonstrando a preocupação em ficar em sintonia com a opinião geral, o que foi também responsável por uma menor ativação das redes neurais de controle cognitivo.

Ficaram evidentes algumas coisas: que os jovens reagiam de forma diferente aos estímulos quando acreditavam que os mesmos eram endossados pela maioria dos seus pares, ainda que esses “amigos”, por assim dizer, lhes fossem completamente estranhos.

O sentimento de valorização também demonstrou uma forte ativação cerebral nas áreas de recompensa e de prazer (semelhante ao que é observado noutros vícios, inclusive).

E, finalmente, a perda momentânea dos juízos de valor.

Todos esses elementos combinados, em parte, podem tornar-se uma das razões pela qual publicar fotos pessoais e acompanhar a oscilação do grau de aprovação ao longo do dia (visitando de maneira compulsiva os tablets e smartphones) pode ser um dos mecanismos da dependência ou vício à tecnologia, inclusive, tornando mais clara a razão porque os faz gastar um tempo precioso de sua vida apenas a verificar as telas e desconsiderando o entorno.

E fica aqui, portanto, uma importante pergunta: Os pais deveriam estar preocupados com a influência das redes sociais, não apenas em relação ao tempo gasto (como se isso já não fosse o bastante), mas igualmente pela interferência negativa dos exemplos de terceiros?

Sim, seguramente (e talvez os videogames, com a sua natural exaltação à violência, não sejam, individualmente, os grandes modeladores dos comportamentos de risco).

Assim, muito parecido com outros meios, ambientes sociais (e agora também digitais) têm características positivas e negativas, todavia, muitas vezes, além dos aspectos já bem conhecidos, pessoas que não são de convivência próxima aos nossos filhos podem ser, de maneira silenciosa, determinantes na formação de atitudes e da personalidade, ao fazer com que os jovens, ainda em processo de formação, muitas vezes, adotem ações pouco saudáveis, mas que evoquem grande repercussão social.

Portanto, é bem possível que os adolescentes, frente às redes sociais, precisem, efetivamente, de ser mais acompanhados.

Fonte: http://diariodigital.sapo.pt/news.asp?id_news=828972

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