Pesquisa mostra como o comportamento e a conduta dos pais interferem no estilo de vida dos adolescentes
A importância dos pais na vida dos filhos foi tema de uma pesquisa feita com 1.485 adolescentes com idade entre 14 e 17 anos pela Universidade Federal do Paraná. O estudo confirma que a punição é ineficaz na educação, porque enfoca o erro. E joga luz sobre a conduta que os pais devem ter na educação das crianças: o ideal é saber “dialogar, dizer não, negociar, estabelecer regras e limites e pedir desculpas para seus filhos”.
A pesquisa mostra o que os filhos pensam de seus pais e suas atitudes, como o uso da violência na educação – que só alimenta problemas nas relações sociais –, aumenta a agressividade, leva à deliquência, ao abuso de drogas e afeta a autoestima. Nem mesmo as palmadas usadas para corrigir pequenas travessuras são indicadas pelos especialistas. São consideradas um fator de risco.
Segundo a psicóloga Lídia Weber, pesquisadora da UFPR e autora de dez livros, há atitudes que são essenciais na educação dos filhos. Colocar regras consistentes, lógicas e claras para a criança, oferecer modelos de comportamento adequado, incentivar a autonomia, ensinar valores morais, estar presente e ter interesse real pelos filhos, praticar a não-violência e demonstrar amor, carinho e afeto por gestos e palavras são as indicações da especialista.
Para a psicóloga Sílvia Losacco, co-coordenadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre a Criança e o Adolescente (NCA) da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, ao educar é preciso manter a coerência entre o que o adulto pensa, sente e faz nas regras dos relacionamentos, nas normas institucionais e na legislação. “O exemplo vem mais das atitudes e menos da verborragia usada com os adolescentes”, aconselha.
A pesquisa da UFPR revela que entre as crianças com autoestima elevada, 48% são filhos de pais presentes. Entre os que relatam baixa autoestima, 46% são filhos de pais omissos. Autoestima comprometida pode levar a comportamentos antissociais, abuso de drogas ou depressão. É claro que nem todos os filhos de pais violentos ou relapsos terão problemas no futuro. Todavia, muitos adolescentes em conflito com a lei vêm de famílias com perfis de situação de risco – violência, omissão e negligência.
Outros dados apontam que pais omissos têm mais chances de ter filhos envolvidos com mentiras, violência e drogas, o oposto do que ocorre quando os pais são participativos.
Segundo a pesquisa, entre os que mentem sempre, 68% são filhos de pais omissos contra 5% que são filhos de pais presentes. A participação dos pais tem reflexos em ações cotidianas, como a frequência escolar. Entre os que matam aula frenquentemente, 43% são filhos de pais omissos, contra 13% adolescentes criados por pais presentes.
O estudo aponta ainda que o número de usuários de drogas é menor nas famílias onde há mais atenção: 97% dos filhos de pais presentes e de autoritários declararam não ter consumido entorpecentes no último ano. O índice cai de acordo com a mudança do perfil parental: 92% dos que não usaram drogas são filhos de pais permissivos, e 82% de pais omissos. Entre os que admitiram o uso de drogas, 83% dos que consumiram crack, cocaína ou merla (derivada da cocaína) são dos filhos de pais omissos.
Longe de casa
Criado sem afeto, limites e valores, Léo (nome fictício), 17 anos, foi pego em flagrante num assalto à mão armada no começo do ano, no bairro Cristo Rei. “Fiz oito assaltos em 14 dias para comprar cocaína e também para curtir”. Ele saiu de casa aos 12 anos, por causa das brigas com o padrasto.
A reabilitação de Léo vai depender da atitude dos pais. Ele recebeu uma medida socioeducativa em meio aberto (liberdade assistida e prestação de serviços comunitários), desde que volte a viver com a família, mas o padrasto ainda resiste à ideia de recebê-lo de volta na casa em que vive com a mãe dele e oito irmãos.
Neto (nome fictício), 17 anos, vai ficar pelo menos 45 dias na Vara do Adolescente Infrator em razão do tráfico de drogas. O rapaz aprendeu a vender drogas com a avó, a mãe, o padrasto, as tias e os primos. “Eu tinha 5 anos e a minha avó já vendia crack e maconha em casa. Ela morreu e as minhas tias assumiram a boca-de-fumo”. Depois, a mãe dele virou mula do tráfico, viajando de Foz do Iguaçu (PR) a Brasília (DF). Numa das viagens, ela foi detida com o filho, com 60 quilos de maconha na bagagem. Neto sempre viveu na casa dos avós e diz não suportar o padrasto.
A turbulência em casa teve reflexos na vida escolar de Léo e Neto. Ambos abandonaram a escola na quinta série do ensino fundamental.
Fonte: http://www.gazetadopovo.com.br/vida-e-cidadania/filhos-sao-reflexo-do-modo-de-vida-dos-pais-bgnf0wtci4cldonyy8ffqnya6
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