O amplo acesso das crianças aos smartphones no Brasil expõe os pequenos a riscos, muitas vezes, subestimados pelos pais e responsáveis legais. O adulto brasileiro, erroneamente, acredita que possui total domínio do uso dos smartphones. Os fatos cotidianos comprovam: não têm e ainda servem de mau exemplo para seus filhos. Além de não conseguir controlar o acesso à internet por parte das crianças, genitores têm praticado atrocidades nas redes sociais em nome de uma suposta “liberdade de expressão” e da vontade incontrolável de exibir seus filhos como se fossem objetos. Na prática, desconhecem e desrespeitam a lei com argumentos pífios, por exemplo: não querer que o filho se sinta discriminado por não possuir um celular de última geração ou não usar os aplicativos de comunicação instantânea.
Compartilhar mensagens, fotos, vídeos e até a própria intimidade virou moda. Isso merece atenção por parte de todos, pais principalmente. Todos precisam estar conscientes de que os aplicativos em smartphones aumentam o risco de exposição a casos de cyberbullying, pedofilia, revenge porn, slap happy e outros crimes e abusos virtuais. A quantidade de processos nas cortes paulistas confirmam o quadro de perda de controle parental e a falta de informação das instituições do ensino sobre o tema. Além disso, a Deep Web é frequentemente utilizada por adolescentes sem a ciência dos responsáveis legais. Por meio desse recurso, crianças e adolescentes adentram no submundo da Internet sob o manto do anonimato, gerando uma lacuna para criminosos atuarem livremente dentro das máquinas de usuários incautos.
Assim, os adultos expõem não apenas a si, mas também os jovens aos vírus, ao “phishing” (coleta não autorizada de dados), à exposição a conteúdos impróprios e à pedofilia em razão de um processo de negação da circunstância atual. Não querem acreditar que o cenário é preocupante, negam a possibilidade dos próprios filhos praticarem ou serem vítimas de crimes. Negam que as crianças podem, a qualquer momento, falar com estranhos. E reclamam que muitas vezes os especialistas “exageram” os problemas na web. Quase sempre, pais consideram tais questões como pontuais, porque outros falharam, sem admitir que podem estar incorrendo no mesmo erro, sem perceber.
Infelizmente, os dados apurados por renomados institutos de pesquisa demonstram que inexiste pontualidade na agressão virtual. A violência se inicia na escola, se estende pelo universo acadêmico e culmina dentro das empresas, que constantemente são obrigadas a lidar com a massa despreparada para a interação presencial e virtual. Ao contrário dos anos 90, os erros de hoje ficarão gravados na “nuvem” por quase uma eternidade.
Ignorantes quanto aos termos de uso das redes sociais, ávidos para serem vistos como “pais amigos”, os responsáveis pelos nossos jovens abdicam diariamente do dever de zelar. Assim, sob a nevoa da ignorância, operadores da Justiça atendem todos os dias pais e filhos perdidos na estrada do futuro virtual propagada por Bill Gates, que soube – como relatam matérias sobre educação – proteger seus filhos de tais armadilhas.
Por: Ana Paula Siqueira Lazzareschi de Mesquita - Advogada especialista em Direito Digital e sócia do SLM Advogados
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