segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Perseguição cresce na Internet

Cerca de 80% dos casos apurados por delegacia especializada são ocorrências de cyberbullying.


Uma prova de que o bullying está crescendo além do ambiente escolar é o fato de que 80% da demanda da Delegacia Especializada de Investigações de Crimes Cibernéticos, em Belo Horizonte, corresponde a casos de cyberbullying – intimidação sistemática ocorrida na Internet. Apesar de não estar no Código Penal, a prática é uma combinação de crimes contra a honra, como injúria, calúnia e difamação, cometidos principalmente nas redes sociais.

Segundo o delegado Daniel Guimarães, as origens do cyberbullying são variadas e vão desde uma briga entre vizinhos a desavenças entre ex-namorados e disputas comerciais entre comprador e vendedor. “São os mais diversos tipos de motivações, xingamentos e atos ofensivos, espalhados com facilidade no Facebook, WhatsApp e outros programas”, disse. Além disso, preconceitos como os raciais e de gênero ganham voz na Internet.

É impossível traçar o perfil de quem pratica o cyberbullying, segundo Guimarães, por ser muito diverso. “Desde adolescentes de 12 anos de idade a senhoras de 70, há quem cometa esses atos infracionais”, pontuou. Na delegacia, apenas 20% dos casos são relacionadas a fraudes online. “Não tenho dados que mostram o quanto a prática cresceu, mas o número de demandas é muito significativo”, disse o delegado.

Ao navegar pelas redes sociais, é comum encontrar exemplos de intimidação, como o da jovem negra Maria das Dores Martins dos Reis, de Muriaé, na Zona da Mata, que ficou conhecido na internet em 2014. Na época com 20 anos, ela publicou uma foto com o namorado branco no Facebook, que recebeu dezenas de comentários racistas, e foi compartilhada em grupos criados somente para agredi-la. Esse caso ainda é investigado pela Polícia Civil. O delegado Eduardo Freitas solicitou ao Facebook dados dos possíveis usuários agressores, muitos são de outros Estados e precisam ser ouvidos por carta precatória.

Punição. Conforme Guimarães, é possível rastrear os autores das intimidações por meio do Internet Protocol (IP) do computador utilizado. “Quando se conecta à internet, o computador gera um IP, que está ligado à operadora que ele utiliza e é passível de ser localizado. Essa é a regra”, explicou.

As penas para quem comete crimes contra a honra na internet podem chegar a três anos de detenção, quando, por exemplo, calúnia – imputar falsamente crime a alguém – e difamação – imputar fato ofensivo à reputação – forem cometidos juntos. Mas, geralmente, ocorrências de cyberbullying são passíveis de penas alternativas, como prestação de serviços à comunidade. Prisão, segundo o delegado, só em caso de crime de alto potencial ofensivo. 


Definição


Cyberbullying. Uso de instrumentos online para depreciar, incitar a violência, adulterar fotos e dados pessoais com o intuito de criar meios de constrangimento psicossocial da vítima, segundo a lei.


Denuncie

Instagram. Se uma conta, foto ou comentário praticar bullying, é possível denunciar. A rede remove conteúdos que contenham ameaças ou discursos de ódio, chantagens, assédio e constrangimentos.

Facebook. A melhor forma de denunciar é fornecendo o link (URL) do conteúdo, que, se identificado, é removido.

Youtube. Vídeos e comentários abusivos podem ser denunciados, assim como o autor deles.

Facebook e Safernet lançam campanha

O Facebook lançou, na última semana, a versão brasileira de sua central de prevenção ao bullying, em parceria com a Unicef e a Safernet Brasil. O objetivo é difundir, entre os 89 milhões de usuários da rede no país, medidas para enfrentar a prática e, principalmente, não se calar diante dela.

O conteúdo é específico para cada tipo de público. Entre os adolescentes, há orientações para os que estão sofrendo bullying, para os que têm amigos nessa situação e para aqueles acusados de cometer a intimidação. Já para os pais, há dicas de diálogo para manter com o filho que está sendo vítima ou é autor de bullying. Por fim, há medidas que os educadores podem aplicar para impedir a prática na escola.

“Mais de 80% dos adolescentes que usam internet no Brasil usam Facebok, por isso é importante usar essa rede para deixar claro que brincadeira tem limite e é preciso combater o bullying”, disse o diretor de educação da Safernet, Rodrigo Nejm.

PUBLICADO EM 21/02/16 - 03h00

RAFAELA MANSUR

Fonte: http://www.otempo.com.br/cidades/perseguição-cresce-na-internet-1.1239418

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