segunda-feira, 26 de setembro de 2016

CVV utiliza redes sociais para proteger crianças e adolescentes dos riscos de suicídio

Solidão, abandono, violência doméstica e abusos sexuais estão entre as causas que fragilizam crianças e adolescentes em busca de ajuda.


O telefone toca uma, duas, três vezes, tempo suficiente para o voluntário beber mais um gole de água antes de voltar ao posto de atendimento. Do outro lado da linha, a voz trêmula do menino repete fragmentos de uma história comum entre crianças e adolescentes que pedem ajuda ao CVV (Centro de Valorização da Vida. Vítimas de omissão, abandono, ausência dos pais ou violência doméstica e sexual, elas representam 3,5% [foram 16 casos] dos 452 suicídios registrados em 31 cidades Santa Catarina entre 1º de janeiro e 21 de agosto deste ano. Neste período, outros quatro menores de 18 anos atentaram contra a própria vida, nos mesmos municípios. Entre os adultos, foram 330 homens e 106 mulheres, de acordo com dados da Secretaria de Estado da Saúde.

“Solidão, depressão, ausência dos pais pela correria do dia a dia, desestruturação familiar ou sequelas físicas e psíquicas de violência doméstica e abusos sexuais são os relatos mais comuns”, diz a responsável pelos atendimentos nas redes sociais do CVV em Santa Catarina, Marlise Resener. Responsável pela implantação do atendimento na internet desde 2009 e voluntária de apoio no posto de Florianópolis, onde começou como atendente ao telefone, Marlise explica que tratar com criança exige dose maior de sensibilidade.

“É preciso usar uma linguagem que crie a confiança na relação, para entender o que está acontecendo com a outra pessoa”, diz. Para Marlise a internet é ferramenta fundamental para facilitar o acesso dos mais jovens. Dos 1.500 atendimentos mensais, em média, 19% foram a adolescentes entre 13 e 16 anos. Outros 31%, na faixa etária de 17 a 20.

“O atendimento pelo chat ainda não é integral, faltam voluntários para o plantão 24 horas. Mas, estamos em ascensão, e a tendência é de expansão na web”, acrescenta. Segundo Marlise, a demanda reprimida é de 40 a 50 pessoas na fila de espera a cada plantão no chat do CVV. A expectativa é trabalhar com 100 atendentes até o fim de 2016.


Sigilo é regra básica entre voluntários

Ao telefone, no chat, pessoalmente ou em palestras em escolas, associações comunitárias e de classe, os voluntários são a alma do CVV. Em todo o Brasil, são apenas 76 postos com 2.200 homens e mulheres para ouvir e orientar pessoas em situação de desespero.

No CVV, “crac” virou sinônimo de coisa boa, explica o voluntário José Vilela. A sigla representa as palavras compreensão, respeito, aceitação e confiança, base da orientação que os voluntários devem repassar a quem os procura em busca de apoio psicológico.

“É quando um simples telefonema pode fazer a diferença entre a vida e a morte”, diz Vilela. Para ser voluntário, é preciso ter mais de 18 anos e disponibilizar quatro horas semanais para a escala de plantão, com escalas aos sábados, domingos e feriados – inclusive Natal, Ano Novo e Carnaval. 

A preparação é feita em curso de 33 horas, sobre características socioeconômicas, público alvo, perfil do voluntariado e maneiras de abordagem e atendimento. “Precisamos estar prontos para um simples desabafo ou para acolher alguém na iminência de causar a própria morte”, emenda Vilela. Em Florianópolis, o próximo curso do CVV para atendentes será no início de outubro.

Apolítico a sem vinculação religiosa, o voluntariado do CVV é multidisciplinar e multifuncional. Outra regra básica é não se utilizar dos próprios saberes, crenças ou ideologias durante o atendimento, e a garantia de sigilo absoluto.

Discussão para romper estigmas

Em Florianópolis, uma das novidades do CVV é a criação do GASS (Grupo de Apoio ao Sobrevivente do Suicídio), com reuniões na sede da avenida Hercílio Luz para as pessoas contarem suas experiências. A estrutura será a mesma utilizada para cursos e palestras, junto ao posto de atendimento do edifício Alpfa Centauri, na avenida Hercílio Luz.

“É mais uma forma de abrir a discussão, quebrar paradigmas e o tabu. Como houve com outras doenças, como câncer e aids”,diz Vilela. O voluntário explica que o grupo funcionará como as AAA (Associações de Alcoólatras Anônimos)

No mundo, ocorrem 804 mil suicídios por ano, de 2.000 a 3.000 por dia, ou um a cada 40 segundos, de acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde). Para cada caso consumado, a relação é de pelo menos 20 tentativas. “E, de acordo com os estudos, 90% deles poderiam ter sido prevenidos”, acrescenta Vilela. 

Os homens tentam menos contra a própria vida, mas morrem mais; as mulheres tentam mais, e morrem menos. Eles, segundo as estatísticas do OMS, se utilizam de métodos mais letais – arma de fogo, enforcamento, veneno ou queda provocada. Elas, geralmente tentam por meios menos letais – cortes nos pulsos ou ingestão altas dosagens de medicamentos.


Saiba com opedir ajuda:

Florianópolis - Fones: 141 e 3222-4111

Avenida Hercílio Luz, 639, edifício Alpha Centauri, sala 408

Na web



Quem busca:

Por idade
Até 12 – 1%
13 a 16 – 19%
17 a 20 – 31%
21 a 30 – 33%
31 a 40 – 11%
41 a 50 – 4%
51 a 60 - 2%



1.500 atendimentos é a média mensal de atendimentos pela rede

1/3 dos atendimentos têm conteúdo autodestrutivo


OCORRÊNCIAS EM SC/2016 *:

De 1º de janeiro a 21 de agosto:

330 homens

106 mulheres

16 adolescentes

Capital:

18 homens

Sete mulheres

Um adolescente

São José:

Sete homens

Quatro mulheres

Dois adolescentes

Palhoça:

Oito homens

Duas mulheres

Joinville:

32 homens

11 mulheres

Um adolescente

Blumenau:

27 homens

13 mulheres

Rio do Sul:

23 homens

Sete mulheres

Quatro adolescentes

*Foram registrados casos em outros 25 municípios

No Brasil:

2.200 voluntários, em 76 postos em 18 estados e Distrito Federal

1 milhão de atendimentos anuais


EDSON ROSA, FLORIANÓPOLIS 
26/09/2016 08H30 - ATUALIZADO EM 26/09/2016 ÀS 09H09

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