quarta-feira, 26 de julho de 2017

Atendimento gratuito ajuda a prevenir suicídio entre jovens

Depois do sucesso de '13 Reasons Why', a procura dos jovens por atendimento psicológico aumentou. Uma nova plataforma oferece atendimento voluntário



A depressão na adolescência tem recebido atenção desde a estreia da série ’13 Reasons Why’, da Netflix e dos casos de suicídio envolvendo o ‘desafio da Baleia Azul‘. Apesar das controvérsias sobre a exposição do tema, o problema veio à tona e chamou atenção da sociedade, inclusive dos jovens vulneráveis, para a busca de ajuda psicológica.


Depois de receber relatos de abuso, automutilação e tentativas de suicídio de mais de 2.600 adolescentes pelo Brasil, a Vittude, uma startup brasileira, desenvolveu uma plataforma em que é possível encontrar psicólogos e agendarconsultas gratuitas. Ao todo, 2.500 psicólogos participam de uma campanha para ajudar a prevenir o suicídio e incentivar a psicoterapia entre jovens vulneráveis.

Consultas

Com psicólogos participantes de diversos lugares do Brasil e de países vizinhos, como Argentina e Peru, as consultas voluntárias são oferecidas de duas formas: presencial e on-line, especialmente para pacientes de lugares afastados dos centros urbanos.

Desde maio, quando a campanha começou, até o momento, a equipe conectou cerca de 200 pessoas para o atendimento sem custo e o propósito é aumentar esse alcance. “Estamos repensando algumas estratégias e decidimos manter o atendimento gratuito por tempo indeterminado para todas as pessoas que precisam de atendimento psicológico e não possuem condições de pagar pela consulta”, afirmou Tatiana Pimenta, uma das fundadoras da Vittude. “Nossa recomendação é que o psicólogo realize um ou dois atendimentos gratuitos, com o objetivo de avaliar a severidade de cada caso.”

Para quem deseja marcar consultas fora do programa voluntário, o pagamento é realizado através de cartão de crédito dentro da plataforma, com a possibilidade de pedir recibo para reembolso ao plano de saúde. O valor médio de cada consulta é de 110 reais por sessão (50 minutos).

Iniciativa

Em maio, pouco depois da estreia da série, o site da plataforma caiu devido ao aumento inesperado de visitas. A empresa recebeu relatos de cerca de 2.600 jovens sobre automutilação, desejo de pôr fim à própria vida, sentimentos de tristeza profunda, abusos e agressões, muitos deles menores de idade.

“Ao assistir a série, jovens que viveram situações semelhantes acabam se identificando com a personagem e, em alguns casos, podem enxergar a solução [suicídio] da Hannah como uma possível alternativa para sua própria dor”, disse Tatiana.

“Recebemos relatos de meninas que foram abusadas sexualmente anos atrás e vivem em conflito por causa disso. O mesmo acontece em situações de violência doméstica, abuso de drogas e álcool dentro de casa, distanciamento dos pais e até mesmo o bullying na escola.”

A situação fez com que os fundadores criassem a campanha de atendimento voluntário ‘Adolescentes em Risco’ na qual profissionais atendem gratuitamente esses jovens. “Criamos uma página pedindo ajuda de psicólogos em todo país, publicamos no Facebook e essa postagem ‘viralizou’. Chegamos a 1,6 milhões de visualizações e recebemos o cadastro de 2.500 psicólogos”, disse Tatiana.

Além de um estilo de vida de risco, o aumento da incidência de doenças psiquiátricas, particularmente a depressão, pode estar relacionado ao aumento de casos de suicídio. A grande dificuldade está no fato de que muitos desses adolescentes não compartilham seu sofrimento com os pais, por medo de repressão ou ridicularização da família, o que pode impedi-los de realizar o tratamento. O Conselho Federal de Psicologia proíbe que o atendimento a menores sem a autorização dos pais.

“Poucos laços sociais são classicamente associados a mais suicídios. Vivemos em uma sociedade que está cada vez mais competitiva e individualista e em que, paradoxalmente, os contatos e relações humanas são substituídas por relações virtuais, que não têm a mesma qualidade”, explicou Correa.
Em risco

No blog da Vittude, existe a possibilidade de fazer um teste, com base no questionário DASS-21 de avaliação clínica, para calcular o nível de depressão, ansiedade e stress. Apesar de não indicar um diagnóstico conclusivo, os resultados obtidos chamam a atenção. “Temos em nossa base pouco mais de 20.000 e-mails de pessoas que realizaram o teste de depressão. Os resultados apontam para quase 13.000 pessoas com depressão ou ansiedade extremamente severas.”

Nos últimos dois meses, a empresa produziu artigos, e-books, vídeos e materiais de apoio com o foco nos adolescentes vulneráveis e familiares. “[Em um vídeo], a psicóloga fala com os pais sobre a importância do diálogo, do acolhimento e da aproximação com os filhos adolescentes”, disse a criadora.

Suporte

Além do agendamento de consultas, a Vittude conta com um chat de suporte – operado pela equipe e por psicólogos voluntários – para ajudar no encaminhamento de pacientes. “Nossa equipe de suporte interage diariamente com as pessoas que enviam mensagens, e-mails e nos acionam pelas redes sociais. Deixamos os psicólogos à vontade para seguirem com as melhores opções que eles tiverem à disposição.”

Em alguns casos, as recomendações vão além da plataforma. “Temos psicólogos que estão atendendo pacientes há dois meses sem custo, outros que combinaram valores muito simbólicos. Há casos em que o voluntário também trabalha na rede pública e conseguiu levar o jovem para o SUS e outros que encaminharam para clínicas sociais da região.”, contou Tatiana.

Segundo Humberto Correa, apesar da abordagem delicada, o Conselho Federal de Psicologia possui normas sobre o atendimento psicológico virtual. Já em casos que envolvem acompanhamento psiquiátrico, o atendimento virtual não é possível, nem desejável.
Busca por ajuda

Segundo dados do Mapa da Violência 2017, do Ministério da Saúde, nos últimos 15 anos a taxa de suicídio entre adolescentes subiu cerca de 10% no Brasil. No entanto, os motivos por trás desse aumento continuam sendo um tabu. Para Tatiana, essa discussão precisa ir além de depressão e do suicídio, pois está ligada aos fatores ou gatilhos que provocam o quadro depressivo.

Atitudes como isolamento repentino ou sinais de tristeza dos adolescentes podem indicar um quadro depressivo. É preciso compreender e ouvir, a negação ou a bronca apenas pioram essa relação. “Mais do que ficar atento aos sinais, é preciso retomar o contato e a convivência familiar. É cada vez mais comum deparar-me com famílias que pouco interagem ou que entraram num sistema de ‘cada um no seu canto’. Isso enfraquece o vínculo, e faz com que o adolescente perca a referência ou não consiga confiar em seus pais.”, concluiu Tatiana.

Por Marina Felix
25 jul 2017, 16h40 - Publicado em 25 jul 2017, 15h08

Fonte: http://veja.abril.com.br/saude/atendimento-gratuito-ajuda-a-prevenir-suicidio-entre-jovens/

sexta-feira, 21 de julho de 2017

Polícia Civil realiza operação para prender envolvidos com o jogo Baleia Azul

Dra. Ana Paula Siqueira foi entrevistada pela Rádio Justiça para comentar sobre a operação realizada pela Polícia Federal para prender os envolvidos no Jogo Baleia Azul:

segunda-feira, 17 de julho de 2017

Medidas punitivas para crimes digitais: materialização da injustiça



Mais uma vez, o legislador brasileiro trata os crimes digitais de forma equivocada, tolerante e inepta. O projeto de lei 5555/13 finalmente foi aprovado na Câmara dos Deputados, para a criminalização da conduta de publicação e divulgação de imagens de conteúdo íntimo em aplicativos de celulares e redes sociais. O acusado da divulgação, após o devido processo legal, além da detenção, será obrigado a indenizar a vítima por todas as despesas decorrentes de mudança de domicílio, de instituição de ensino, tratamentos médicos e psicológicos e perda de emprego. Essas são apenas algumas das consequências de quem tem a vida devastada pela divulgação da intimidade.

As penas previstas ao agressor ainda são efêmeras, mas é um começo de tentativa de proteção ao direito à privicidade e à intimidade.

O artigo 11 do Pacto de San José da Costa Rica, recepcionado no Brasil pelo Decreto 678 de 1992, assegura a proteção da honra e da dignidade. Embora tenhamos diversos comandos legais e constitucionais sobre o tema, o projeto de lei é inovador pelo caráter criminal na abordagem do tema. É certo que algumas pessoas não possuem empatia e resiliência, e por vezes apenas não cometem crimes por medo da pena.

Por essa razão, o projeto de lei merece crítica. Se mantida a pena de três meses a um ano de reclusão, não teremos uma inovação na lei, mas a aplicação processual da injustiça materializada.

A pornografia de vingança ou, na língua inglesa “revenge porn’’ é uma das formas mais devastadoras para denegrir a imagem, principalmente da mulher. Sabemos que o Brasil ainda é um pais machista, onde é natural aplaudir o homem e repudiar a mulher que estão na mesma imagem.

Não devemos esquecer que a heroína Maria da Penha Maia Fernandes, sofreu dupla tentativa de homicídio por parte de seu então marido, que atirou contra suas costas enquanto ela dormia, causando-lhe paraplegia irreversível. Em razão da morosidade judicial, leis brandas e da ausência de proteção da sua integridade física e psíquica, o caso foi enviado à CIDH/OEA (Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos) após 15 anos de inercia do Estado Brasileiro. Em 2001, o Brasil foi responsabilizado pela CIDH por omissão, negligência e tolerância.

Quantas mulheres – de todas as idades – já se sofreram em razão da divulgação indevida de imagens? Como disse o Deputado Federal João Arruda: “esse crime é muitas vezes muito pior que qualquer violência física contra a mulher porque ela vai morrendo aos poucos. Ela tem a sua intimidade violada, ela acaba se expondo para todos, perde emprego, perde família…”

Para aquela que “vai morrendo aos poucos”, entende a obtusa Câmara dos Deputados que a pena de 3 meses a 1 ano é suficiente!

Como mulher, cidadã e atuante na área de Direito Digital, as penas previstas no projeto de lei são uma ofensa à inteligência de uma pessoa mediana. Ela será o salvo conduto de maus-caráteres e criminosos para que continuem a abusar, constranger, humilhar e chantagear mulheres com a intimidade e a confiança que lhes foram concedidas indevidamente.

Precisamos pressionar o Senado Federal para que as penas não sejam tão brandas, para que as vítimas possam voltar a ter confiança no sistema e para que o Estado Brasileiro não se auto condene, mais uma vez, por omissão, negligência e tolerância às agressões virtuais.

Por: Ana Paula Siqueira Lazzareschi de Mesquita

Imagem: reprodução 

quarta-feira, 5 de julho de 2017

Estudo relaciona doença mental e bullying em jovens a uso excessivo de Internet

Um levantamento feito pelo instituto de políticas educativas do Reino Unido (EPI) encontrou uma correlação entre o uso excessivo de Internet e casos de bullying e doenças mentais em jovens. Segundo o estudo, jovens com uso extremo da rede tendem a sofrer mais bullying e têm maior probabilidade de ter doenças mentais.

O uso de Internet é considerado "extremo" quando os jovens passam mais de seis horas diárias conectados (além do tempo que usam a Internet na escola). No Reino Unido, 37,3% - mais de um terço - dos jovens de 15 anos se encaixam nessa classificação. Dentre os países da OCDE, o Chile é o único que teve mais jovens nessa categoria.

Mais Internet, mais tristeza

"Enquanto 12% dos jovens que não usam redes sociais têm sintomas de doenças mentais, esse número sobe para 27% entre aqueles que usam redes sociais por três horas diárias ou mais", diz o estudo. Como o The Next Web aponta, não fica claro se a doença mental leva os jovens a passar mais tempo nas redes ou se o uso mais intenso das redes gera os sintomas da doença.


Casos de bullying também eram mais comuns entre os usuários "extremos" de Internet do que entre o restante dos jovens. 18% deles alegaram que outras pessoas tinham espalhado boatos negativos sobre eles. Entre os jovens que ficavam três horas ou menos por dia na internet, essa porcentagem caía para 7%. Novamente, o levantamento não permitia afirmar que o uso intenso das redes era causa ou consequência dessa situação.

Restrição não é a solução

Por outro lado, como a BBC comenta, o estudo também alerta contra os riscos de se limitar ou restringir o uso de Internet dos jovens. Segundo a autora do levantamento, Emily Frith, essa restrição pode até proteger os jovens de algumas ameaças, mas também reduz as chances de que os jovens desenvolvam as habilidades digitais de que precisarão no futuro - incluindo aquelas necessárias para enfrentar essas ameaças.

Nessa perspectiva, Frith opina que o papel dos pais deve ser de oferecer apoio e ajuda aos jovens para enfrentar seus problemas. O governo também estaria implicado nesse caso: segundo o estudo, seu papel deve ser de "trabalhar com a indústria, escolas e famílias para melhorar o bem-estar emocional e a resiliência dos jovens, e garantir que as crianças são ensinadas e incentivadas a aprender habilidades digitais conforme têm seu primeiro contato com as redes sociais".

Outros estudos já haviam sugerido uma relação entre uso intenso de redes sociais e problemas mentais. Alguns psicólogos acreditam que as redes podem acelerar a 'fobia social', e há indícios de que padrões de uso de smartphone podem ajudar a detectar depressão em algumas pessoas. Há também indícios de que o Instagram seja a rede social que mais faz mal à saúde mental dos jovens.

GUSTAVO SUMARES | 04/07/2017 12H38

Fonte: https://olhardigital.com.br/noticia/estudo-relaciona-doenca-mental-e-bullying-em-jovens-a-uso-excessivo-de-internet/69484