segunda-feira, 10 de outubro de 2016

Adolescente sofre bullying na escola e toma remédios para faltar à aula: "Medo de me matarem"


A fase em que se moldam valores éticos e morais em um indivíduo, segundo os estudos, é nos três primeiros anos de vida, isso quer dizer que até mesmo as brincadeiras são assunto sério, pois podem tornar crianças inocentes em potenciais vítimas ou agressores.

O crescimento de casos de agressões entre crianças e adolescentes nas escolas traz uma dúvida aos pais: como orientar os filhos quando eles são espancados ou ameaçados dentro das instituições de ensino? Especialistas revelam dicas ao Hoje em Dia de como agir nestes casos e qual o papel da escola.

Ana Paula Ferreira Oliveira não corrige seus filhos batendo e em sua casa ensina que é importante evitar o confronto e nunca optar pelo revide.

Mas ela se sente perdida em suas próprias orientações, pois seu filho de 14 anos é, desde os 10, vítima de agressão.

— Já chegou vez de ele levar chute, levar tapa, levar cadernada, tapa na cara, jogaram água nele. Todos os tipos de constrangimento que uma pessoa pode ter, ele já teve.

Um caso que repercutiu em todo país nos últimos dias foi o de quatro adolescentes, entre 13 e 16 anos, que foram apreendidas por torturar uma garota de 14 anos em Trindade, na região metropolitana de Goiás.

A vítima levou socos, pauladas e foi esfaqueada. O ato teria sido incentivado porque o ex-namorado de uma das adolescentes estava ajudando a vítima a organizar uma festa de 15 anos

O filho de Ana Paula também, por uma razão absurda, já escapou da morte por pouco. 

— Como eu não me enturmo com ninguém, eles acham que eu sou esnobe, essas coisas. Gostaria de ser mais solto, mas eu não consigo. Sou muito tímido.


Ele lembra que já sofreu de tudo com os colegas de escola. 

— Botaram uma arma na minha cara para me intimidar. [Já deram] Soco, murro, empurrão. Não tem como eu me defende.

Em casa, o adolescente sempre por advertido para nunca reagir e ele não sabe como lidar com a situação. Nem ele e nem sua família, conta Ana Paula. 

— A diretora disse que não poderia fazer nada: "Ah, mãe, é muito aluno para tomar conta"; mas meus filhos vão para a escola para aprender, não para ser judiado dentro da escola. Eu não bato neles dentro de casa.

Depois de quatro anos apanhando constantemente, o garoto passou a ter um comportamento diferente, lembra a mãe. 

— Ele ficou agressivo com meu outro filho. Começou a falar mais alto que a gente.
O adolescente prefere não ir para a escola para não sofrer. 

— Já tentei tomar muito remédio para passar mal, essas coisas para não ir à aula. Para não ver as pessoas, sabe.
O caderno dele está, praticamente, em branco, pois o adolescente perdeu meses de aula. 

— Tiro agora nota baixa, prova perdi, matéria também. O medo é de me matarem mesmo.

A falta de um aluno em classe nem sempre é consequência do bullying, mas, muitas vezes é o reflexo de uma ausência que já existe em casa. Os casos de violência entre crianças e adolescentes provocam uma reflexão: de que maneira a educação da família continua na escola e de que forma a escola pode educar além da sala de aula?

De acordo com a psicóloga da educação Neide Barbosa Saisi, a escola tem tanta responsabilidade quanto a família. 

— Uma criança que passa por humilhações, agressões, ela tende a deprimir. Ela sofre muito. É muito sério o sofrimento causado, é muito sério, então a escola não pode, tem direito de se calar. É preciso que os pais estejam firmes, mas é preciso que a escola corresponda: dentro dela não haverá bullying


Kézia Bombonato, psicopedagoga, explica que orientar o próximo é sempre tão importante quanto ensinar os filhos que é importante escapar de um conflito sem se tornarem reféns de um ciclo de agressões. 

— A escola também tem que ter um papel interventivo, tanto com o agressor quando com a vítima. Por que essa criança que está sendo agredida continua permitindo ser agredida. Acho que a questão não é revidar, mas ensinar essa criança a ser assertiva e confrontar o agressor com firmeza porque se ela for estimulada a revidar com outra agressão, ela passa também a ser agressora e vai achar que na vida sempre vai resolver as questões de agressão com outra agressão.

Para Neide, que ensina professores a lidar com desafios semelhantes, a violência deve ser tema de estudo e debate em todas as séries, nas escolas e em casa o quanto antes. 

— É preciso, então, explicar, conversar, dialogar com aquele que sofre e mostrar apoio da família. Isso é o que a família deve fazer. Mas é preciso também mexer dentro da escola, então a família deve ir, deve falar e a escola deve acolher. Ensinar para a vida é ensinar a viver coletivamente, então é papel da escola, sim! 

Imagem: Hoje em Dia

Fonte: http://entretenimento.r7.com/hoje-em-dia/fotos/adolescente-sofre-bullying-na-escola-e-toma-remedios-para-faltar-a-aula-medo-de-me-matarem-09102016#!/foto/1

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