Como lidar com brigas de crianças na escola
Artigo da Dra. Ana Paula Siqueira para a revista Direcional Escolas.
O conflito de personalidades, as disputas de propriedade e os desentendimentos naturais muitas vezes culminam em desentendimentos, que por vezes acabam com troca de socos, chutes, pontapés e uma dose assoberbada de palavras de baixo calão.
É importante que o educador saiba a diferença entre um desentendimento pontual e os casos de bullying, sendo certo que em todas as hipóteses, medidas de cunho sócio pedagógicas precisam ser tomadas e, dependendo da gravidade do caso, é necessária a intervenção jurídica de advogados para a evitar que o conflito seja judicializado.
Ao saber que o filho ou filha está brigando no colégio, muitos pais assumem uma postura reativa e altamente agressiva contra os professores, coordenadores, orientadores e direção. A consequência vem na forma de ofensas em redes sociais, xingamentos nos malfadados grupos de mães do WhatsApp e reuniões intermináveis e exaustivas com a equipe pedagógica. Ao final, essas ações somente inflamarão ainda mais a situação no âmbito escolar.
Para romper com esse ciclo – no qual vêm à tona comportamentos como ódio e negação - o ideal é a instituição adotar previamente um protocolo depois da gestão inicial do conflito. Independente da aplicação de penalidades pelo fato em si, o recomendável é dialogar, conversar com a crianças, antes de tudo, para entender por que estão brigando. A intenção não é condenar como agressor ou ré, mas, sim, compreender o que a fez pensar que a briga era o melhor — ou único — caminho a ser seguido. A escola precisa criar um canal de diálogo em que o aluno se sinta seguro para dizer, de fato, o que aconteceu para motivar essa situação.
A partir do momento que a escola entendeu a causa da briga, chega o momento de buscar soluções. Se foi verificado que se trata de caso de bullying, é importante que os trabalhos pedagógicos e jurídicos comecem imediatamente, sob pena de violar a lei 13.185/15 e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, artigo 12, incisos IX e X.
Em outros casos, o aluno pode apenas estar apenas passando por um momento difícil, como luto, separação judicial dos pais ou mudança de residência, fatos que notoriamente aumentam a agressividade, especialmente nos adolescentes. Como solução, é possível investir em atividades extracurriculares, como as artes dramáticas, para que o jovem possa extravasar a tensão de forma lúdica.
Mais do que punir, o colégio tem como o papel a socialização dos alunos. No contexto atual, há desafio a ser enfrentado em muitos ambientes educacionais. Os educadores têm que ajudar a transformar comportamentos agressivos com a participação dos pais. E estes, infelizmente, antes de serem vistos como omissos, devem ser aceitos como pessoas absurdamente envoltas na sobrevivência cotidiana.
De toda forma, a mediação de conflitos escolares aparece como uma ferramenta para promover a resolução de desentendimentos; esse instrumento é importante para que a convivência no ambiente educacional seja tranquila e isso se reflita nas famílias e em toda a comunidade escolar. Diante desse quadro, é possível recorrer a apoio psicológico e jurídico, para que possam ser aplicadas técnicas de mediação de conflitos escolares e justiça restaurativa.
Reforçar valores institucionais e familiares a partir do diálogo é exercício importante na educação dos jovens para que compreendem, com o tempo, sobre a importância do diálogo. Ao tratar a causa do problema e ao trabalhar pedagogicamente com a questão do conflito, diminuem as chances de que o evento se repita dentro e fora do estabelecimento de ensino.